O Finados de Bimba e Cambota
Era o tempo de auge dos ônibus intermunicipais lotados, dá fé, da cachaça, porque trem já nem havia mais. Na ligação Belo Horizonte-Pitangui, com várias frequências diárias e poeirárias ou lamaçárias, o Pará de Minas tava no meio. E desesperadamente, na fila para embarcar - sem passagem, sem assento vago e com dezoito ao invés dos nove passageiros em pé regulamentares já em seus indevidos lugares, Bimba e Cambota, respectivamente serralheiro e mestre de sete instrumentos, já indevidamente chapados fazem um apelo ao motorista:
- Tem piedade, moço, a mãe do Bimba faleceu justamente nesta véspera de Finados, e o senhor pode imaginar se ele não chega a tempo...
E, cedido o espaço no maior dos apertos, ainda com uma chuva grossa a enlamear a estrada, choveram as manifestações de condolências, às quais o bom e leal Cambota respondia pelo cabisbaixo e macambúzio amigo Bimba:
- Ela faleceu sim, coitada, nesta data, faz 18 anos...