OS PARDAIS E OS VAIDOSOS - Álvaro Giesta & Frassino Machado
“Paga-se o sonetilho
Com um simples poemilho…
E eu não insisto mais
Pra não assustar os pardais!”
Frassino Machado
Álvaro Giesta:
Deixemos os pardais poisar
Num poiso sem pouso certo
Que a bruma deles está perto
Mais tarde vão escorregar.
Quando o brilho da vaidade
Só cerca a periferia
E a sua esfera embacia
As barbas brancas da idade
Embora de risco ao lado
Cabelo bem penteado
E óculos escuros no rosto
Fazem, da vida, um senão
E quase por distracção
Semeiam o seu sol-posto.
*
Frassino Machado:
Não vai, Álvaro, sem resposta
Que os pardais não são vaidosos
Muito menos invejosos
E comem do que ninguém gosta.
Os vaidosos, pelo contrário,
Num corrupio ordinário
Enchem a cabeça de vento
E, andando de saga em saga,
Têm uma estória aziaga
E só fazem excremento.
Os pardais até são espertos
E têm inveja dos pavões
Mas não sabem os palcos certos
Ficando co´ os bicos abertos
E longe dos figurões.
A vaidade é uma arrogância
Que não passa de virtual
E nem o professor pardal
Com a sua petulância
Conseguiu ser natural.
Até os poetas têm vaidade
Sonhando terem qualidade
Mas quando acordam é tarde
Ninguém lhes liga patavina
Ninguém lhes dá brilhantina
E toda a vaidade lhes arde…
Os pardais ninguém os deseja
Os vaidosos mordem-se d´inveja!
Frassino Machado
In ODIRONIAS