GUERRA DE TRINCHEIRAS!

Não falta quem não saiba mas Portugal chegou de fato - e isto é História - a enfrentar a Alemanha do Kaiser (nada a ver com cerveja, seus PINGUÇOS) na Primeira Guerra Mundial, em defesa das terras de França.

Em uma das mais ferozes batalhas - épica, em verdade - defrontavam-se por fim diretamente portugueses e alemães. Trincheiras a menos de cem metros umas das outras, matavam-se à vontade, como sempre foi do melhor gosto europeu. O morticínio era arrepiante, mas só lhes dava vontade de escalar cada vez mais.

Diante da indefinição, pois ora um lado estava em vantagem, ora o outro, o comandante do regimento alemão, Oberst (Coronel) Von Trauben, exigiu de seus oficiais subordinados uma tática para vencer de vez os portugas, pois ficar estacionado como estava e levando volta e meia um montão de chumbo da Artilharia, o Regimento de Infantaria que comandava acabaria aniquilado. Ninguém falou nada, todo mundo fazendo cara de paisagem, até que um auslander (alemão nascido no estrangeiro) ousou tomar a palavra, após meia dúzia de pigarros:

- Mein oberst, acho que sei como resolver isso!

Era o Oberleutnant (no Brasil, primeiro-tenente) Schütz, por todos desprezado. Mesmo de má vontade, Von Trauben se dispôs a ouvi-lo:

- O que pensa, tenente?

- Senhor, sou lá do Brasil e conheço muitos portugueses, sei como eles são. Se o senhor me permitir, digo que é mais do que fácil decidir esta batalha.

O oberst Von Trauben quedou-se estupefato: fácil? Pois tinha que arranjar novas reservas toda semana, tal o morticínio que os tugas lhe causavam. Não sabia se considerava ousadia ou apenas idiotice a proposta do auslander brasileiro mas, à falta de ideias dos que considerava como seus iguais, resolveu dar-lhe corda:

- O que propõe, tenente?

E este expôs o plano. Português ou se chamava Manél ou Juequim, portuguesa sempre se chamava M'ria. Partir-se-ia daí!
 
* * *
 
Os portugueses faziam o que lhes era normal, davam uns tiros na alemoada e depois iam comer uns tremoços e beber vinho do porto. Nem em casa a vida lhes era tão divertida. Claro, faltavam as rap'rigas. Então, uma voz berra por algum alto-falante:

- Ó Manél, recado da M'ria!

Metade da trincheira portuguesa se levanta:

- Quequié, ó pá?

Ratatatatatatá, pow-pow-pow, todas as metralhadoras e fuzis que os alemães tinham cantaram sua canção de morte. Metade da portuguesada caiu sem vida. Meia hora depois, voltou o alto-falante:

- Ó Juequim, recado da M'ria!

A outra metade da trincheira portuguesa se ergue:

- Quequié, ó pá?

Ratatatatatatá, pow-pow-pow, todas as metralhadoras e fuzis que os alemães tinham cantaram outra vez sua canção de morte. A outra metade da portuguesada caiu sem vida. Mas sobrou um, e por acaso o Comandante.

Que por acaso se chamava Tinent'-Curunéli Rui P'drosa D'Albuquerque e que, tendo sido criado em Inglaterra, não conhecia nenhuma M'ria, só Mary. Talvez também pela criação no estrangeiro, tinha um QI razoavelmente superior ao de uma alface. Assim, começou a p'nsaire:

Essa alemoada é porreira, ó raios, se b'searam no que todo mundo sabe dos portugueses para matar meu regimento inteiro. Mas já vi como fazem: se para eles todo português ou é Manél ou Juequim e portuguesa é M'ria, bem sei que alemão ou é Hans ou é Fritz e alemoa é sempre Frida.

Decidido, municiou uma das metralhadoras e a apontou diretamente para as trincheiras alemãs. Deu o golpe no ferrolho e berrou, a plenos pulmões e com a mais horrenda das carrancas:

- Ó Hans, r'cado da Frida!

A trincheira alemã inteira se levantou, até o próprio comandante Von Trauber, e todos berraram de volta:

- Aqui não tem nenhum Hans, ó portuga!

E o P'drosa, já se levantando de mãos erguidas em rendição, resmungou:

- Ah, se t'vesse...



 
TÚLIO OZONE
Enviado por TÚLIO OZONE em 20/05/2018
Reeditado em 22/05/2018
Código do texto: T6341995
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