VENDAS ONLINE
Há algum tempo – mais precisamente, em 2014 – comprei um IPad. Usei-o pouquíssimas vezes, pois não gostei. A Apple tira a minha paciência, com todas aquelas constantes exigências de senhas e bloqueios repentinos. Da última vez, a nova senha que eu tinha escolhido por exigência da Apple para que eu pudesse acessar o MEU aparelho (e que eu tinha anotado em uma folha de papel cuidadosamente para que não errasse da próxima vez) foi bloqueada novamente pela Apple. Só que eles bloquearam tanto a minha senha daquela vez, que o tablet nem abria mais os programas; só aparecia uma mensagem dizendo que eu tivera meu acesso negado e deveria contatar o site da Apple ou um representante deles. Tentei várias vezes desbloquear o tablet pela internet, seguindo as instruções deles, e não consegui.
Acabei tendo que levá-lo a uma loja física e pagar cem reais pelo desbloqueio. Aquilo foi o fim da linha para mim, e decidi vender o tablet. Alguém me disse que havia algumas páginas de vendas online no Facebook, e acessei algumas delas. Escrevi o anúncio, que foi basicamente este aí abaixo, e postei na página de vendas:
-Vendo IPad 2 da Apple, praticamente novo e em perfeito estado, sem nenhum arranhão, na cor prata, 16 gigas de memória, tela de 10’’, comprado em 2014. Não aceito cheques, apenas dinheiro.
Logo alguém respondeu: “Põe uma foto!” Pensei: por que eu tenho que postar uma foto, já que todo mundo sabe como um IPad se parece? Mas tudo bem, coloquei a foto no site. E começaram os comentários:
-De que cor ele é?
-Quantos gigas de memória?
-Está funcionando bem?
-A tela é de quanto?
-Qual IPAd é? O 4?
Então, alguém me chamou inbox:
-Quero muito comprar. Quanto é?
Eu disse o preço, e ele concordou:
-Você guarda ele para mim até amanhã? Vou conseguir o dinheiro e a gente se encontra pessoalmente.
Concordei. Mas no dia seguinte, nada... Daí uma moça me chamou inbox. Fez todas as perguntas possíveis sobre o tablet – que já estavam respondidas no anúncio que eu escrevi e nos comentários, como respostas que dei às pessoas não tinham lido o anúncio direito. Respondi tudo de novo, e ela disse que “ia ver” e depois me chamava. Dois dias depois, ela ressurgiu das trevas:
-Você parcela?
-Não, é à vista, em dinheiro.
-Você aceita cartão?
-Não, sou pessoa física, e não pessoa jurídica.
-Mas existem pessoas físicas que aceitam cartão!
-É, mas eu não aceito.
-Hum... vou pensar e depois te falo.
Nisso, o menino que disse que queria comprar me chamou de novo:
-Ana, desculpe, mas gastei o dinheiro... você guarda ele para mim por mais um mês?
Eu disse que não seria possível. Ele me pediu desculpas de novo.
Dois dias depois, a tal moça me chamou de novo. Começou a me bombardear com mais uma porção de perguntas que eu já havia respondido. Pediu desconto, perguntou sobre cheque pré-datado, enfim, me encheu a paciência. E sumiu.
Uma semana depois, ela voltou. Eu disse a ela que tinha vendido o tablet, pois eu não aguentava mais ficar respondendo às perguntas dela. E eis o que ela me respondeu:
-Como assim, vendeu??? Mas nós estávamos negociando! Mas não tem problema não, infelizmente, eu estou acostumada a lidar com gente da sua laia.
E eu:
-?????????
E ela desapareceu.
E não vendi o desgraçado do tablet. Continua por aqui. Outro dia, meses após deixa-lo aposentado em uma prateleira, coloquei-o para carregar, e ao abrir, pipocou a mensagem na tela: “Digite a sua senha.” Fui lá no caderninho e copiei a mesma senha que tinha cadastrado da última vez, e ele respondeu: “Senha inválida. Acesse nosso site.”