SER E NÃO SER
Em um apartamento simples no subúrbio da cidade, um homem acorda com muita dor de cabeça e sai cambaleando para cozinha e se depara com uma mulher fazendo o desjejum.
Mulher - Ah!!!! Quem é você maldito! (Apontando uma panela para o homem e passando pro outro lado da mesa).
Marido - Eu?!!! Eu sou, eu sou.....seu marido eu acho! (fala coçando a cabeça com dúvidas).
Mulher - Meu marido!!!! Faz doze anos que quando eu acordo meu marido já saiu para trabalhar e quando ele chega eu já dormi....prova que é meu marido.
Marido - Essa roupa não é de seu marido? (puxando o macacão do serviço que está usando para mostrar)
Mulher – sim...é este macacão que eu sempre lavo!
Marido – Não é está a bota do seu marido? Levantando o pé e apontando.
Mulher – Sim....o chulé é inconfundível (tapando o nariz).
Marido – E esta cueca? (puxa a ponta da cueca para fora).
Mulher – Aiiii! Guarda isso! (tapando a vista)
Marido – Então...provei?
Mulher – Ainda não!
Marido – Espere ai que tenho a prova definitiva...(põe a mão no bolso como se lembrasse de algo e tira um documento).
Marido – Veja...uma identidade...Severino da Silva de Sousa. Não é o nome do seu marido?
Mulher – agora sim...é que eu lembrava dele, quer dizer, de você mais baixo. (mostrando o tamanho que lembrava).
Marido – Mas deixe de besteira e venha me dar um cheiro. (se chegando a mulher todo saliente).
Mulher – Espere! (grita e ameaça com a panela, o marido da um pulo e volta para o outro lado da mesa).
Marido – O que foi agora?!
Mulher – O que você está fazendo aqui...meu marido devia estar trabalhando.
Marido – Bom...agora você me pegou...eu não lembro de quase nada de ontem. (coçando a cabeça) Mas lembro muito bem que nunca lhe mandei flores. (Pega da cadeira um buquê com cartão em que lê “seu eterno admirador”).
Mulher – Eu achei que fosse você...mas então quem foi? (os dois ficam olhando o bilhete de forma interrogativa).
Marido – Já sei...tem o endereço da floricultura...vamos ligar.
Mulher – Sim...vamos descobrir quem é esse galã...quer dizer cafajeste! (sorrindo disfarçadamente).
Marido – Alô! É da floricultura Epitáfio? Vocês mandaram flores para rua dos açoites edifício Proletários?
Sr. Epitáfio – Sim senhor. Inclusive temos mais uma entrega nesse edifício.
Marido – Mas eu quero saber das flores entreguem ontem...quem enviou?
Sr. Epitáfio – Ele não deixou nome, mas era um sujeito baixo, mau encarado, forte, bigodudo e estava armado.
Marido – Armado é? (Severino engole a saliva e olha para a mulher) Com quem você se meteu mulher? Com um matador de aluguel, foi?
Mulher – Sei de nada, nunca nem vi.
Sr. Epitáfio – E as flores de hoje, posso enviar? Que horas será o enterro?
Marido – Enterro!!! Como assim?
Sr. Epitáfio – Bom, é uma coroa de flores do mesmo homem que disse para entregar até às dez horas porque ele já estaria no local para ornar o defunto.
Marido – Morri! Tenho uma hora de vida (Severino olha o relógio que marca nove horas). Vou fugir.
Mulher – Para onde?
Marido – Sei lá! Pra longe do bigodudo. (Severino sai em direção as escadas, mas vê um bigodudo subindo e volta correndo, porém não entra em seu apartamento com medo, vai no apartamento de frente que está com a porta aberta e de lá escuta as pancadas na porta).
Bigodudo – Abra a porta, mulher! Tá com o sono da morte é? (O bigodudo desiste e vê a porta do outro apartamento aberta). Oi! Ô de casa! Ninguém? (Severino está atrás do sofá escondido se tremendo de medo).
Bigodudo - Melhor toma uma na recepção até o finado aparecer! (Ele desce e Severino fica na pressão até que chega uma senhora ao apartamento).
Senhora – Que dia cansativo, meu pai. (a mulher larga as compras no sofá e Severino se esconde no guarda-roupa. Uma entregadora bate a porta).
Entregadora – Bom dia! Receba esta coroa de flores.
Senhora – Credo! Isto é de enterro...que brincadeira é esta?
Entregadora – Não sei senhora, mandaram entregar até às dez horas para o velório do dono do apartamento que morreu esta manhã em um acidente na fábrica.
Senhora – NÃO!!!! (desmaia e a entregadora chama uma enfermeira).
Enfermeira – O que houve aqui?
Entregadora – Essa mulher desmaiou quando soube que o marido morreu na fábrica hoje cedo.
Enfermeira – Hummmm...então ela é viúva do difunto fujão?
Entregadora – Como assim?
Enfermeira – Bom...O marido dela levou uma pancada na cabeça e foi levado sem sinais de vida para o hospital, mas sumiu de lá pelado.
Entregadora – E quem tirou o corpo?
Enfermeira – Vai saber. Pronto, ela está medicada e vai acordar mais tarde. Melhor a gente ir. (Saem do quarto e Severino sai do guarda-roupa, mas antes de sair do quarto chega o bigodudo com duas velhas e Severino se pendura na janela do apartamento).
Bigodudo – Pois eu digo que esta mulher tá me traindo dona velha.
Velha 1 – Tem rumo, tem rumo, tem rumo!
Bigodudo – Se acha que ela vai contar pra mim se tiver outro?
Velha 2 – Vai não, ela não vai não!
Bigodudo – Acredita que faz doze anos que a gente não se conversa...eu chego ela está dormindo, eu saio ela está roncando.
Velha 1 – E como vocês fazem as coisas meu filho?
Bigodudo – Ora, tem noite que ela me acorda, tem noite que eu acordo ela, mas a gente nem acende a luz.
Velha 2 – Vixi... tu precisa de umas férias eim?
Bigodudo – E justo hoje que peguei folga porque um colega morreu na fábrica ela não abre a porta...mandei até flores mais cedo antes de ir pro hospital...só pode que tem outro...mas se eu pego eu esfolo o cabra.
Velha 1 – Dá uma chifrada no rim do safado.
Bigodudo – Pra completar alguém pegou meu macacão no hospital com meus documentos.
Velha 2 – Corno desindentificado.
Bigodudo - Mas eu vou me identificar pra mulher agora... (saem todos para o outro apartamento e batem na porta. A mulher com medo liga para delegacia da mulher e chegam quatro policiais femininas. O bigodudo corre e se esconde no guarda-roupa da senhora).
P1 – Qual é o caso aqui?
Velhas – Um corno revoltado. Está escondido nesta casa. ( As PMS encontram Severino na janela).
P2 - Sai dai safado...agora vai ver se é bom bater em mulher. (descem a peia no Severino sem dó que ele desmaia).
P3 – Eita meninas...a gente exagerou...acho que o homem morreu...bora voltar pro distrito que não teve testemunha. (saem todas em debandada e o bigodudo sai do guarda-roupa).
Bigodudo – Então meu macacão estava contigo eim, safado. (tira o macacão do Severino que sai para seu apartamento e é reconhecido pela mulher).
Mulher – Tu não tinha ficado mais alto homem?
Bigodudo – Mulher, deixa de conversa que já perdi tempo demais, não é todo dia que morre alguém na fábrica. (No outro apartamento, a mulher acorda e vê seu marido no chão moído de taca).
Senhora – Zeca! Acorda meu bem ( Enquanto chora chega a equipe do hospital).
Médico – Olha ele ai...finalmente o achei.
Senhora – O que aconteceu com meu marido.
Enfermeira – Ele levou uma pancada na cabeça e desmaiou. No hospital acordou sem memória e me perguntou que era. Quando sai para avisar ao médico ele pegou o macacão do colega que levou ele pro hospital e saiu pelos fundos.
Senhora – Mas me disseram que ele tinha morrido.
Enfermeira – Foi um engano, disseram para isso pro colega dele dono do macacão, um tal de Severino.
Senhora – Mas ele está aqui todo machucado.
Médico – Bom...esses hematomas já foram por aqui mesmo. Deixe eu ver (verifica o pulso). Tá morto. (A senhora desmaia de novo e a levam para o hospital. O marido dela acorda todo doido).
Marido – Ai, ai, ai....(a mulher do outro apartamento entra e dá de frente com o espancado que a segura e tenta po-la no guarda-roupa, mas ela tenta se livrar).
Marido – Entra sua doida, o bigodudo vai chegar logo. (Nisso que ele fala o verdadeiro Severino bigodudo dono do macacão feliz por ver seu colega vivo).
Bigodudo – Zeca! (Vai abraça-lo, mas Zeca pula da janela de medo. O bigodudo e a mulher olham o corpo na calçada).
Mulher – Que doido...perdeu a cabeça.
Bigodudo – Eu já estava pensando em devolver a coroa de flores.