Antes que a morte nos separe
---- Se alguém aqui presente é contra esta união, fale agora ou se cale para sempre! - diz o padre.
Os noivos se olham, sorriem, olham para seus convidados, sorriem um pouco mais de forma a quase causar dano permanente aos seus maxilares, voltam a olhar para o padre, que também se alegrava com o silêncio.
---- Então eu os declaro (…) - O padre tentou falar.
---- Eu estou grávida dele! - Uma mulher nada barriguda, grita ao entrar chutando a porta.
---- Quem é essa mulher? - Pergunta a noiva.
---- Não faço ideia! – responde o noivo.
---- Pera! Não é o Eduardo? Você não é o Eduardo! - a mulher aponta para o noivo, que se chamava Jeremias – Desculpa, errei o casamento. Espero que ainda dê tempo. - Fala envergonhada pouco antes de sair correndo para a capela ao lado.
O padre respira fundo, sorri rindo de coisas que pensava estarem acontecendo na capela ao lado, e tenta mais uma vez:
---- Então, se alguém tem algo a dizer, que impeça este casal, Jeremias e Madalena, de comungar a sagrada união do matrimônio, que fale agora ou cale-se para sempre!
---- Eu amo essa mulher! E sei que ela me ama! Isso é um erro! - Um jovem apaixonado, que havia visto um grande número de comédias românticas entrou pronto para fazer um discurso sobre o amor, o perdão e todas aquelas coisas melosas.
---- Conhece? - O noivo perguntou para noiva.
---- Deve ser da capela ao lado. - A noiva respondeu rindo e dando de ombros.
---- Marisa! Quando estivemos no Rio de Janeiro, foi a semana mais feliz da minha vida, mesmo com aquele problema com a polícia, eu nunca me senti tão livre como me senti com você dentro daquele camburão. - Um silêncio sepulcral reinava em toda congregação – E quero te dizer que, espera, quem é você?
---- Prazer, meu nome é Madalena, estou aqui casando com o Jeremias. - A noiva queria ficar furiosa, mas, não conseguia evitar de achar graça.
---- Ele não é o Eduardo?
---- Não. Ele é na capela ao lado.
---- Nossa! Será que dá tempo ainda.
---- Com certeza! - A noiva respondeu pensando na mulher de instantes atrás.
---- Sempre há tempo para o amor – o padre completou enquanto o jovem se dirigia para a capela ao lado – Por favor me perdoem, mas, para seguir com a cerimônia, eu preciso perguntar, e a única resposta que posso aceitar é o silêncio… Alguém tem algo contra este casamento? Fale agora ou se cale para sempre!
---- O noivo é mulher! - Gritou um homem com certa idade – Fez cirurgia para mudar de sexo fazem três anos! A mãe da noiva me contratou para investigar! Sou detetive!
---- Hahahahahaha – O padre e os convidados riam em alta voz!
---- Ela já é casada com outro homem! - Entrou um outro, bem mais novo, mas, com muitos cabelos brancos – O pai do noivo me pediu para investigar! Sou detetive também!
---- Senhores, creio que vocês estão procurando o casal na capela do lado – o padre pacientemente explicou após conseguir conter os risos.
---- O agora conhecido como Jeremias está se casando ao lado? Desculpe! - Falou o detetive mais velho.
---- O que?! - os noivos, o padre e os convidados perguntaram em uníssono.
---- Desculpa, Não é o Eduardo Jeremias que está casando aqui?
---- Não! - Agora o noivo estava chateado de verdade – Eu sou só Jeremias! Eles estão na capela do lado!
---- Alguém pode trancar a porta? - Pergunta o padre. Ao que imediatamente os convidados se prontificaram a fechá-la e segurá-la com força.
---- Alguém tem algo contra? - O padre falou causando risos – Não? Ótimo! Então eu (...)
Ouviu-se um estrondo fortíssimo, e o ruído inconfundível de um prédio desabando.
---- Caiu um raio na capela aqui do lado! - gritou um dos convidados da noiva! - Está pegando fogo e a fachada desabou! Eles estão presos lá dentro!
Os convidados correram para as janelas, ignorando o padre e o esperançoso casal no altar.
---- Se alguém tem alguma coisa contra este casamento, fale agora ou…
A impressionante reverberação acústica da porta da igreja sendo arrombada pelo batalhão de polícia só não foi mais surpreendente do que a pergunta do Padre para o casal.
---- Vocês tem certeza que ainda querem se casar?
---- Sim! Responderam os dois!
---- Então vamos rápido! Alguém tem alguma coisa contra? - cochichou o padre.
---- Todo mundo pra fora! - O policial gritou - Temos uma ordem de prisão para Madalena e Marcelo!
---- Eles estão na capela ao lado – o padre falou em estado de choque - aquela perto do carro de bombeiros.
---- O nome dele não era Eduardo? - Perguntou a noiva.
Após muito dialogo, apresentação de documentos com fotos, revistas nos convidados, padre e nos noivos, os policiais finalmente saíram, grande parte dos convidados voltou aos seus lugares, e o padre falou bem rápido.
---- Alguém tem alguma coisa contra esse casamento?
---- Nããão! - Falaram em uma única voz todos os presentes.
---- Eu os declaro marido e mulher até que a morte os separe! Beije a noiva antes que aconteça mais alguma coisa! Ei! Isso foi um tiro?
Os noivos se beijaram tão envolvidos em sua própria felicidade que mal ouviam os tiros e sirenes que vinham da capela ao lado, nem mesmo se incomodavam com os cacos de vidro colorido que os atingiam quando as balas atravessavam os belíssimos vitrais artísticos que enfeitavam as janelas.
---- Melhor a gente se abaixar – Disse a noiva após o beijo…
---- É… Antes que a morte separe a gente...
=NuNuNO==
(Que deveria ter escrito sobre o outro casamento, que foi muito mais interessante)