Estadão atrasado
O O Estado de São Paulo é jornal de longa tradição. Ardorosamente conservador e defensor da plutocracia paulicéica, teve também seus embates momentosos e corajosos contra as trevas milicais.
Nos fins dos anos sessenta e início dos setenta, a sua circulação, que era respeitável, costumava dobrar-se aos sábados quando vinha recheada das oportunidades de emprego, alojamento, negócios de toda ordem. E aí o jornal era mesmo popular, descendo do seu pedestal elitista do restante da semana.
A moçada toda que vinha de todas as quinze bandas atrás duma oportunidade de trabalho principalmente mal esperava chegar o sábado para lançar-se avidamente sobre aquela seção de pequenos anúncios.
Milton, mineiro da Jangadinha, filho de Maria Perpétua e Gustavo, que fora meu colega de ginásio e colégio nas Gerais é que me contava essa, sem contudo identificar a personagem central da história;
O moço chega ao balcão da redação do OESP e, visivelmente curto de recursos e, com o sotaque beim minero, indaga ao atendente por uma edição anterior do jornalão, que saía por um preço reduzido, naturalmente:
- Ô moço, o sinhor teim aí um Estadão atrasado?
O atendente sinalizou de cabeça que sim, foi aos arquivos e voltou, sorridente, com um canudo à mão, e o desenrolou perante o solicitante, com uma boa gargalhada:
Era um mapa do Estado de Minas Gerais
Tava consolidada a amizade que nos une aos bandeirantes.