POESIA DE PLÁSTICO

Nos últimos anos, tem sido uma tendência mundial a procura crescente pela poesia de plástico em detrimento da poesia tradicional. Cada vez mais, pessoas de vários continentes, credos, religiões, orientação ideológica ou sexual, quer sejam pobres ou ricas, insanas ou em pleno domínio das suas faculdades mentais, enfim, toda a massa humana viva do nosso planeta tem se curvado diante desse mais novo fenômeno.

Pesquisas recentes indicam que as vantagens de se ter uma poesia desse tipo são inúmeras quando comparadas com a poesia tradicional. Segundo alguns pesquisadores, a poesia que já se conhece sempre foi pautada no cotidiano das pessoas e, por isso, a sua constituição é sazonal. Portanto, o seu afloramento depende da conjunção de vários fatores, dentre eles, capacidade de sentir e perceber as coisas mais simples da vida, altruísmo, amor, sexo, ódio, revolta, desprezo ou indiferença. Nesse sentido, avaliam esses pesquisadores, um indivíduo pode acordar às três da manhã em um dia bastante chuvoso para pegar o metrô que o conduzirá por duas longas horas ao seu local de trabalho, estando ele, porém, nutrido de poesia tradicional, abarrotado de poesia tradicional, transbordando poesia tradicional.

Mas esse mesmo cidadão, ainda segundo esses pesquisadores, poderia, no dia da festinha da sua promoção no trabalho, achar tudo aquilo ridículo, esfaquear o chefe e depois ir ao cinema. Alguém até poderá comentar que há senso poético em tal desfecho ou que isso renderia um bom roteiro nonsense. No caso de um filme assim, se ninguém ainda teve uma ideia parecida, tudo bem, concordam os pesquisadores. Mas, certamente, senso poético, nesse episódio, não há — explicam —; isso seria apenas o efeito negativo da sazonalidade da poesia tradicional. Nesse dia, a poesia não o teria acompanhado.

Esses pesquisadores chegaram à conclusão de que, no caso da poesia de plástico, não existe sazonalidade, ela pode estar presente em todo e qualquer momento da vida das pessoas. Não importa se se está desempregado, tuberculoso, morando com a sogra, devendo ao agiota ou abandonado pelo grande amor da vida. Por ser de plástico, ela é, obviamente, eterna. E, em sendo assim, poderá também eternizar as coisas boas da vida.

Só existe um probleminha avaliado por esses pesquisadores que economistas menos pragmáticos identificariam como o único gargalo justificável para a demanda reprimida dessa nova versão poética: o plástico especial para esse tipo de poesia era manufaturado de forma precária e nas horas vagas por um monge tibetano naturalizado norte – americano que trabalhava em uma lanchonete famosa da Carolina do Norte. Após atingir o Nirvana de forma surpreendente em um Dia de Ação de Graças, o novo iluminado abandonou o emprego nessa lanchonete e sumiu no mundo.

Masé Quadros
Enviado por Masé Quadros em 31/03/2018
Reeditado em 22/02/2023
Código do texto: T6296012
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.