O mundo não tem jeito!

Cláudio Thomás Bornstein

Tinha acabado de fechar o jornal, olhei para minha mulher com um sorriso triste e balançando a cabeça, disse: “O mundo não tem mais jeito. Vamos ter que encontrar um novo Noé.” E depois, achando que era ocasião apropriada para uma demagogiazinha, complementei: “Ou melhor, uma Nooa, porque o mundo agora é das mulheres.”

Minha mulher é mineira, não gosta de deturpações históricas, ainda mais bíblicas, de forma que o sorriso foi amarelo. Tive que deslocar um pouco a linha do raciocínio, mas para ficar do mesmo lado, passei para o irmão dela, meu cunhado, que há um tempo atrás criou um personagem, a mulher-pato, para ilustrar uma exposição. Nada a ver com o pato da Fiesp que é ideia bem mais recente, desconfio até que roubaram dele. A mulher-pato não paga imposto, não se recusa a pagá-los, nem tampouco precisa de cruzar os olhinhos para isto.

Prosseguindo na linha do arrazoado, eu disse: “Taí a mulher-pato, candidato ideal ao novo Noé. Já traz a barca embutida no próprio corpo de forma que é só botar pra dentro e sair navegando”, foi o que eu disse à guisa de conciliação. E para reforçar, falei: “Prometo que ajudo. Minha relação atual com o divino é das melhores. Peço para ele providenciar uma chuva maneira, sem estragos em demasia.”

Minha mulher continuava séria e sisuda, de forma que fui obrigado a pensar no que tinha dito. Ela tinha razão. Fosse com pato ou sem pato, com Noé ou com Nooa, deste jeito era melhor deixar tudo como estava, porque de novo aquilo não tinha nada.