O ANTES E O DEPOIS

Veja só quanta mudança

Pedrinhas podem fazer

Sentido uma dor danada

Cirurgia fui fazer

O médico disse: agora

Uma mudança vai ter

Isso me deu uma tristeza

E fiquei desanimada

Pois eu sou daquele povo

Que está sempre esfomiada

Que sempre que ver comida

Tem que dar uma dentada

Tive que me acostumar

Fiz mudança acontecer

Como com moderação

Não posso me exceder

Porque segundo o doutor

Eu posso até morrer

No meu café da manhã

Houve uma revolução

Deixei minha tapioca

Com um bife do olhão

Ou sanduíche com queijo

Pão com queijo ou requeijão

Hoje eu já não me excedo

Na minha alimentação

Como banana ou uma pera

Ou um pedaço de mamão

O leite só desnatado

Não pense ser fácil não

No meu almoço

Só como frango grelhado

Legumes só no vapor

Com quiabo misturado

Até o velho feijão

Do prato foi retirado

Sinto saudade

Daquele doce de leite

Que dava uma incrementada

Misturava com sorvete

E pra ficar mais gostoso

Botava creme de leite

Sinto saudade

Daquela carne torrada

Ou do gosto saboroso

Daquela nossa buchada

Chega da água na boca

De lembrar de panelada

As vezes lembro

Quando chouriço comia

Feito de sangue de porco

Chega a gordura escorria

Com amendoim torrado

Que a superfície cobria

As vezes sonho

Comendo aquele capão

Farofa e cebola roxa

Panela de macarrão

Pra completar a desgraça

Uma tigela de pirão

E o cuscuz

Com galinha misturado

Eu comia com a mão

Lambia o dedo melado

Quando terminava a carne

O pé era devorado

Alguns prazeres da vida

De mim não vão retirar

O meu gosto pela dança

O prazer de viajar

E pra mostrar que estou viva

Ainda penso em namorar

Minha aparência

Não gosto muito de olhar

Com medo de alguma coisa

Não venha me agradar

Vou descrever pra vocês

Pra que possam calcular

Hoje não sou mais fofinha

Tô magra de fazer dó

Meus joelhos torneados

Hoje virou mocotó

Se por um lado foi bom

Do outro ficou pior

Cabeça diminuiu

O cabelo afinou

Eu nem preciso de tinta

Pois ele mesmo pintou

Gerando economia

Minha poupança engordou

O meu olho que era grande

Agora esbugalhou

A minha boca era enorme

Agora escancarou

E meus dentes que são grandes

Agora foi que mostrou

O meu rosto que era gordo

Hoje só osso ficou

E com a pele enrugada

A minha idade mostrou

Tirou máscara de novinha

E uma bruxinha ficou

Os meus braços coitadinhos

Osso e pelanca ficou

Eu não pude mais dar Tchau

Pois tudo se balançou

Só roupa mangas compridas

Diminuem o meu pavor

Os homens que me olhavam

Com cara maliciosa

Hoje olham de outro jeito

Não sou mais reboculsa

Hoje olham sem malícia

Não me chamam de gostosa

Mas estou de bem comigo

Ao meu espelho fiel

Faço a pergunta de praxe

E ele faz seu papel

E me faz ver de outro modo

Você tá só o PITEL

Alcinete Gonçalves
Enviado por Alcinete Gonçalves em 12/02/2018
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