O google da Marilu
O Tuninho era vidrado na Marilu. Queria porque queria comê-la de qualquer jeito. Mal saia do serviço abria o computador no MariluGostosa.com.br e vibrava com as fotos de frente, de ladinho, de costas, com o google à mostra, com os uols reluzindo de gel, com a baixaki ginecológicamente escancarada. Enfim, tudo quanto fosse foto da Marilu apreciava.
E dá-lhe covardia! Cinco contra um no maior descaramento sem dó nem piedade.
E quem poderia condená-lo por prática tão cabeluda? Vocês? Eu? O mundo?
Caraca! Era solteiro, morava sozinho numa casinha no bairro Esperança, longe do centro da cidade e trancava a porta à chave quando praticava tais sacanagens.
O telefone da moça tava mais que decorado: 5556-6969.
- Proceis verem – comentava todo santo dia – até o telefone dela é um convite ao sexo.
E vamos ser sinceros: a Marilu era um tesão mesmo. Um metro e setenta, olhos azuis, tudo em cima de 26 aninhos bem doados pelo papai do céu. Tipo da mulher que as feias exconjuram e de pura inveja rogam praga a torto e direito.
Mas, vocês perguntariam, se ela era puta, desculpe, garota de programa, se bem que tanto uma como outra faz o mesmo tipo de trabalho, só mudando a nomencratura do ofício, e o Tuninho solteiro, que razões impediam do ato se concretizar?
Boa pergunta! A resposta era simples: grana.
Simplesmente isso. Ou melhor, falta de grana. Que a bisc . . ., ops, garota de programa, era o tipo putarica. Só dava pra doutor, vereador ou industrial. Tudo em troca de milinho, nota em cima de nota.
Vê lá se o cara tinha milzinho sobrando! Salarinho micho na prefeitura, coisa aí de mil, mil e cem por mês, fora os descontos, prestação do carro, aluguel, água, luz, comida e outros quetais, dia 20, no máximo 25, cadê grana?
Só se uma alma caridosa aparecesse e financiasse a empreitada. Mas quando é que alguém aparece para financiar um reles funcionário público municipal com tão nobre intenção ?
Fosse um senador precisando de algum para pagar pensão e dar educação para o filhodaputa; fosse um ministro querendo um farra mulheril em Brasília: ou que fosse um simples sindicalizado querendo montar num jipinho maneiro, sempre aparece uma empreiteira soltando a dinheirama. Ou um lobista com a cuequinha forrada de verdinhas para a sacanagem.
Mas, para o Tuninho da Prefeitura? Nãnãnim nãnãnã!
A outra opção seria economizar.
E foi assim que o taradinho de plantão começou sua via-crucis economizatória.
Cinquentinha aqui, uma caixa de cerveja ali, um maço de Vip acolá, quatro meses depois foi ver como andava a gloriosa poupança.
O gerente da Nossa Caixa entregou o extrato. Exatamente 320 reaisinhos suados e minguados. Pouco. Muito pouco. Fosse contabilizar finan-lógicamente, dava para o quê? Umas macetadas nas tetas? Umas encostadas no bundão? Uma boquetinha, na melhor das hipóteses.
Foi aí que sonhou!
Talvez por pensar tanto na vagab. . ., desculpe de novo, garota de programa, sonhou que ela, a gloriosa Marilu entrava quarto a dentro fantasiada de Mulher Gato e começava a acariciá-lo de cima a baixo. Subitamente não era mais a Mulher Gato e sim uma coelhinha da Playboy, toda cheia de frequetreques e rumrumruns.
Acordou todo suado,a coisa explodindo de tesão.
Devia ser um sinal, pensou( porque todo cara desesperado acha sinal em tudo), para jogar no bicho. Pegou o último dez da carteira( e olha que era dia 18 ainda) e fez um terno com o Bin Laden. Vaca, gato e coelho, do primeiro ao quinto.
A vaca, explicou aos amigos quando recebia no outro dia os mil e duzentos que ganhou, eu tasquei por conta. Coelho e gato tava no sonho, mas aí pensei nos tetões da Marilu. E aos que disseram que podia ser cabra, pelas tetas, resmungou:
- Com aqueles melões que a Marilu tem? Cabra? Daquele tamanhão?
A hora da onça beber água finalmente chegara!
Deu uma abonada na parte da tarde( o chefe que se fudesse com a papelama ), abriu o site,uma conferida nas fotos da gostosona, ligou.
Uma voz suave do outro lado pediu que deixasse recado . “ Na cara que tá dando pra outro.” Aguardou um pouquinho mais( coisa de cinco minutos) e ligou de novo. A mesma voz transmitiu o mesmíssimo recado. “Quer saber dum negócio?” pensou consigo mesmo em voz alta. “ Vou direto pra casa dela e se não estiver espero na portaria.”
Foi o que fez. Pegou o Golzinho na garagem, que resmungou, resmungou mas acabou pegando e tchicabum! rumou para o Jardim Felicidade, onde a musa morava no terceiro andar do Edifício Alvorada.
Ofegante- o maledeto do elevador vivia quebrado – apertou a campainha. Ah! O porteiro tinha avisado que Dona Marilu acabara de chegar. Trimmmm! Nada. Trimmmmmmmmm de novo. Passos e eis que surge explendorosa, quem? Quem? Marilu e sua gostosura em carne e osso. Mais carne, óbviamente.
- O que o senhor deseja?
E agora? Complicado aparecer na porta de alguém que não se conhece e falar “eu quero te comer, sua gostosa”
Duas engolidas em seco e abriu o verbo. Contou que vivia vendo ela no site, que estava tesudo de vontade e queria fazer um programinha aqui e agora. Isso tudo de uma talagada só. Sem direito a vírgula, reticências ou travessões.
Marilu suspirou antes de responder:
- Desculpe, eu achei que o senhor tivesse vindo buscar as malas.
- Malas? Que malas?
- As minhas.
Foi aí que ela explicou de estar cansada da vida que levava e decidira entrar num convento de Carmelitas. Onde passaria o resto da vida em contato com Deus.
O Tuninho desabou. Mil pensamentos desencontrados se atropelaram na cabeça que ele só pôde murmurar entredentes:
- Mas tem de ser hoje?!? Será que não pode virar freira amanhã? Ou semana que vem? Tem de ser hoje???
Não se sabe se a Marilu ficou indignada ou se riu. Só se sabe que o Tuninho meteu um pontapé num cachorro viralata que veio cheirar seu pé e não tinha nada com a história da súbita religiosidade da bisc. . ., ops, garota de programa, isso depois de mandar dois testemunhas de Jeová enfiar no rabo a revistinha Despertai que tentaram lhe vender, mal saiu do prédio.
Depois se enfiou na zona da Cotinha onde torrou mais de quinhentinho entre cerveja, cigarro e doses de bebida para a putaiada. Bem que tentou comer uma mais gostosinha, mas bêbado do jeito que estava . . .
Um adendo:
A Marilu conseguiu ficar exatamente duas semanas no convento das freiras. “ Magina se ia ficar mais! A Madre superiora só fazia a gente rezar o dia inteiro, das 6 da manhã as 6 da tarde. E não tinha diversão nenhuma!” E voltou à antiga vida de garota de programa (viu? Dessa vez não errei.)
Só que o Tuninho ainda não sabe.