ENTRE O CRIME E O CASTIGO
«No Reino da Venezuela»
Há Natais conciliadores,
E há Natais de refrigério,
Há Natais bem promissores
E há sempre um qu´ é mistério.
Já lá vai, enfim, o tempo
Do Reino da Dinamarca:
S´ a traição é passatempo
Tudo sai mal ao monarca.
Mas hoje ninguém fala dela
Mas diz-se com nostalgia:
“Ide ao Reino da Venezuela
E perguntai pela harmonia!”
Chegado que foi o Natal
Nem sequer havia pernil
Prendeu-o a traição fatal
Nas malhas de um louco ardil.
Não sei s´ há crime ou castigo,
Ou se é, tão só, fatalidade,
O Natal virou sem-abrigo
Morando nele a saudade.
“Os barcos foram pro mar”,
Dizem os arautos pedantes,
“E o pernil é urgente pagar
S´ o querem ter como dantes.”
Todo o Natal sem pernil
Não tem sentido e é tristeza
E não há um Hamlet viril
Que o traga pra cada mesa.
Exaltam-se as emoções:
Em terra onde não há pão
Sejam quais forem as razões
Nunca ninguém tem razão.
Será o Pai Natal ou Jesus,
É esta a grande questão?
Ser ou não ser falta de luz
Antes o pernil do que o pão!
No Reino da Venezuela
Já ninguém trilha o carril
E no devir, para mal dela,
O povo esticará o pernil!
Frassino Machado
In ODIRONIAS