O GRANDE MONÓLOGO DO "MELHOR DOS PIORES!"

Dizem que a amizade, mais que o amor, se trata de afinidade de alma.

Acredito nisso.

E não temos como negar essa constatação que se demora um pouquinho para que dela nos certifiquemos com toda certeza.

Conforme a gente vai vivendo aprendemos que aquela coisa de se dizer que “no trem da vida muitos embarcam, poucos ficam e inúmeros se vão sem deixar saudades” é deveras verdadeiro, e, por fim, descobrimos o que está escrito em Provérbios é incontestável :“aquele que encontra um amigo encontra um tesouro”.

E ouso ir um pouco além: “quem encontrou um amigo, de certa forma, encontrou a si mesmo”. Ainda que não sejam lá aqueles tesoooouros...

Mas há alguns que, mesmo indo... são inesquecíveis pela pontuação dos seus inusitados.

Isto posto, digo que tenho uma baita dificuldade em lidar com a vaidade humana. Se é ser arrogante, então, não é meu amigo.

Eu até tento, mas o sucesso é deplorável.

E o mais engraçado: eu sinto vergonha da vaidade arrogante do outro.Nada que a psicanálise não hipertrofie as causas...e me culpe por tal insegurança tão vaidosa.

Portanto, aviso que a criatura da qual discorrerei ...não era um meu tesooooouro!Nunca foi.

E conto que muito lá atrás do tempo já me chamava a atenção, mas nunca só uma atençãozinha, porque “inho ou inha” não era sufixo para aquela criatura tão grandiosa, não combinava, e claro, como todo grande, não chamava não só a minha mas a atenção do pequeno mundo ao derredor!

Afinal, sua vaidade nunca seria superável por parte de qualquer mera “criaturinha inha”. Nem adiantaria tentar!

A tal da vaidade não era, assim, uma vaidadezinha dessas que todos estamos autorizados a ter por um segundo até sem sentir vergonha: Não, aquilo era vaidade pra ninguém botar defeito, muito menos se sentir apto a, algum dia, vaidosamente concorrer a uma nobre vitória vaidosa sobre o pódio de todas as vaidades concorrentes do mundo!

Acha!

Então, eu acalmava a galera iniciante no tema: “gente, calma, isso deve passar, não é possível, é imaturidade da idade!”-posto que quando somos muito jovens sempre achamos que o mundo nos pertence de forma reverenciável.

Depois de muitos anos, e bem por acaso, nos reencontramos numa mesa por um tempo suficiente para que eu concluísse que à minha premissa em tese haveria uma conclusão anteriormente bem errada: Não, não era imaturidade da idade. A idade piora a vaidade, isso sim!

O monólogo:

-Oi ,como vai você, tudo bem? –perguntei pisando em ovos...

-Olá, olha, melhor impossível! Eu nunca estive tão bem! Cada vez estou melhor, não fosse um grande caso difícil de saúde, mas que está se resolvendo, não aqui, claro, aqui nenhum médico sabe do que se trata meu grande problema, mas estou nas mãos dos melhores médicos especialistas do mundo! Aconteceu logo depois que casei com a melhor e maior criatura que já conheci... (melhor e maior era só o modo de dizer, obviamente!).

-Você se...(tentei)

-Sim, claro, me mandei daqui, no seu bairro então, nunca que eu moraria

praquelas bandas perigosas de lá; morei nos melhores locias do Brasil , mas depois me fui para o melhores países de todo o maior do primeiro mundo; viajei esse tempo todo para os maiores lugares turísticos do planeta, hotéis de vanguarda única, restaurantes de primeira-só dos melhores! Nesse tempo todo freqüentei os melhores lugares do mundo, conheci as melhores pessoas , gente das mais belas, educadas efamosas do mundo (tudo depois de si, é bom sempre lembrar!), fiz concursos lá fora, passei em todos nos primeiros lugares...trabalhei nos melhores empregos, a pessoa com quem me casei trabalha na maior multinacional do planeta!

-Você teve...(tentei de novo!)

-Sim meus filhos os melhores do mundo, cursaram as melhores escolas, estão nos melhores empregos do planeta, passaram no PhD em primeiríssimo lugar das maiores universidades renomadas da Terra, com a honra de todos os meus méritos.

-Sua dificuldade de saú...(sou insistente pra caramba!)

-Claro, tenho altíssima presão já controlada, grande tontura, mas me apoio nesse instrumento que comprei na melhor loja de equipamentos de saúde do mundo.

-Mas afinal o que você tem?- tentei pela última vez de -e de vez, juro!-perguntando corajosa e humildemente, já vaidosamente cansadíssima.

A grande resposta:

-Minha doença é tão, mas tão diferente de tudo que se conhece no mundo que foi catalogada como a primeira na escala das doenças mais desconhecidas da medicina...

Bem, quem me lê aposta que estou inventando, não é mesmo?

Digo sinceramente que : Claro que não!- e digo mais- e sem vaidade nenhuma !-que diagnostiquei prontamente a tal da doença incurável mas só perigosa ao entorno, viu?

Cuidado gente, vaidade pica e mata mesmo...não a quem a tem, obviamente, só a quem está desavisada e humildemente por perto.

Mata sempre o outro porque ao "melhor dos piores" nunca há um PEQUENO remédio para um GRANDE hospedeiro...