O VENDEDOR DE LINGERIE

-Vendedor de lingerie!- era assim que Lafond gostava de ser chamado pela clientela.

-Oui. Ça va.- respondia alegre Lafond com seu francês principiante.

Quando o cliente chamava-o de vendedor de calçola aí o bicho ficava louco.

-Eu sou vendedor de lingerie! Me respeite que eu sou um vendedor gabaritado. Quem vende calçola é camelô!

Lafond era um vendedor famoso em Aracaju. Sua mercadoria era boa e aceitável na praça.

-Vendo minhas peças em todos os lugares de Aracaju e até hoje ninguém reclamou da minha mercadoria.- gabava o comerciante.

Era mesmo. O cabra vendia nos cabarés, mercados, praias e até nos bares.

Nos cabarés era bem recepcionado.

-Tia, o homem da lingerie chegou.- gritava a quenga para a dona do brega:

-Tem novidade, Lafond!

-Bonjour madame.

-Deixe de frescura e mostre-me as novidades.

O comerciante mostrava as peças que imediatamente eram aceitas pelas marafonas.

-Lafond, eu quero de bolinha- reivindicava Rosinha, a quenga mais dengosa da área.

-É cara demais!

-Não tem importância, meu macho que trabalha na multinacional me deu uma grana boa ontem depois da transa.

-Quero aquela lingerie branquinha.- pedia Maria, a mulata mais quente do pedaço.

-Também vai custar uma boa grana.

-Dinheiro não falta para mim. Transo somente com homens ricos.

Realizado as vendas, Lafond fazia também uma pequena farra com as dondocas.

-Lafond,vamos pro quarto!

-Não dá, estou trabalhando. -esquivava o negociante.

O comerciante não gostava de transar com as meretrizes, nem de ser trapaceado por ninguém.

-Gosto de trabalhar tranquilo! Não admito enganar nem ser tapeado.

No mercado o sujeito tinha uma grande clientela.

-Na feira os magarefes gostam de comprar roupas íntimas para suas esposas. Adoro vender naquele local por que o dinheiro rola facilmente.

-Minha mulher adora suas mercadorias. Você tem novidade?- o homem da banca de carne indagava.

-Tenho!- respondia o representante.

-Vou comprar agora mesmo.

Nas praias, a figura central do conto também gostava de negociar. Detestava bares, principalmente quando alguém gritava:

-Vendedor de calçola, venha aqui!

-Eu não sou vendedor de calçola! Eu sou vendedor de lingerie.

E o sujeito bêbado questionava:

-E eu sei lá, o que é lingerie. Quer vender ou não?

Outro berrava da outra mesa:

-Vendedor de calcinha, venha aqui!

-Eu já disse que sou vendedor de lingerie.

E o pinguço:

-Vendedor de calcinha, calçola, cueca, calção, ceroula é tudo a mesma coisa para mim.

Conhecidíssimo em Aracaju, Lafond também se deu bem lá pra bandas das cidades de Estância, Indiaroba, Pedrinhas, Boquim, Santa Luzia do Itanhy e outras cidades do Sul do Estado de Sergipe.

-Agora tenho que visitar os cabarés de Propriá e seus arredores.

Em Propriá o cabra se deu bem nos bregas da linha do trem e no famoso cabaré de Patu.

Em Propriá e nas cidades do Sul do Estado de Sergipe, nosso amigo comerciante também não transou com nenhuma quenga tampouco foi tapeado pela sua clientela.

Depois de Propriá, Lafond foi convidado por um amigo para vender suas peças íntimas no povoado Cruz da Donzela.

-Já ouvir falar! Aceito.

Em Cruz da Donzela, zona de prostituição falada no Brasil inteiro, Lafond não se deu bem. O nosso amigo vendeu umas peças a uma quenga briguenta que não quis assumir o pagamento.

-Eu não pago! Se quiser chamar a polícia, pode chamar!- salientava irada a velhaca.

-Minha senhora, eu preciso desse dinheiro para prosseguir meu comércio.

-Eu não pago! Chame a polícia!

-Eu não chamo a polícia, não!

-Quer as peças íntimas de retorno!

-A senhora já usou...

-Então me mate! Eu não pago!

-Vamos entrar num acordo...

E a quenga mais calma salientou:

-Você transa comigo e fica tudo acertado.

-Eu transo somente com minha mulher.

A marafona satirizando:

-Tem medo da mulher.

-Não...

-É PC?

-O que é isto?- questionou Lafond.

-Pica caseira. Homem que somente transa com a esposa.

-Quero meu dinheiro...

-Pago somente na transa.

Sem solução para receber seu dinheiro, Lafond ainda alertou:

-A senhora é que pediu a transa.

Foram para o quarto e Lafond foi adiantando:

-Quero com luz apagada.

Apagada a lâmpada, os dois nus e abraçados a mulher esperneou:

-O que é isto? É um braço?

Luz acessa e olhando para o pênis de Lafond, mulher assustada gritou:

-Eu pago seu lingerie. Pago agora mesmo, seu jegue desgraçado! Pago e desapareça da minha vista para sempre.

E com a cara cínica Lafond ainda caçoou:

-A senhora foi que me chamou...

Reri Barretto
Enviado por Reri Barretto em 09/12/2017
Código do texto: T6194153
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