PRESÉPIOS DA VIDA
Eu fiz um belo presépio
Cá muito dentro de mim
Ele não é frio nem tépido
Mas é rubro de carmesim.
Tem um menino trigueiro,
Tem Maria e tem José,
Tem aconchego e braseiro
Com animais ali ao pé.
Três corações que palpitam
P´ los traumas que a vida tem
E os animais que acreditam
Naquele Presépio de Belém.
E há corações tresmalhados
Nos meandros tristes do mundo,
Quais presépios ficcionados
Com falta de senso profundo.
Ele há presépios, de facto,
Nos quatro cantos da terra
Bailando em fado abstracto
Por entre a paz e a guerra.
Presépios de encantos vazios
Sem conteúdo e à deriva
Que não são quentes nem frios
Nem têm norma que sirva.
Presépios, feitos de aposta
Ao sol, à chuva e ao vento,
Subindo e descendo a encosta
Sem fazer contas ao tempo.
Presépios – rios de sangue –
De altas e baixas marés,
Vertem pela alma exangue
Um espírito de insensatez.
Presépios férreos de cor
Com falta de paciência
Num oxidado torpor
Sem culpa nem penitência.
Presépios, telhados de vidro,
Estilhaços de presunção,
Passos de um cego perdido
Em busca de orientação.
Presépios em desmazelo
Com selvas em toda a volta,
Ervas daninhas e gelo,
Com turvas águas à solta.
Presépios feitos de ócios
E sermões encomendados,
Cordas de forca-negócios
De penhoras e mercados.
Presépios de fogo-vadio
Sem destino ou direcção
Que não aguentam feitio
Muito menos sujeição.
Presépios sem temperança,
Tão doces como amargos,
À sombra de birras-criança
Com chantagens e encargos.
Presépios sem rumo certo,
Nem uma estrela brilhante,
Travessia de um deserto
Sem colorido ou cambiante.
Presépios de fim-de-festa
Portas fictícias de Natal
No fundo ninguém contesta
Porque já é tão natural…
Há mais “presépios da vida”
Que não têm Vida, porém,
São panaceia acrescida
E não enriquecem ninguém!
Frassino Machado
In ODIRONIAS
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