"MICO"...COM LARANJA...

"Conto verídico"

Recentemente tratava-se duma comemoração especial, e então, resolvi que receberia alguns amigos para um jantar informal.

Sempre ouvi dizer que certas ocasiões são perigosíssimas para se testar receitas novas, principalmente para quem, assim como eu, não me destaco em nada pelos dotes culinários. Cabelo e maquiagem também são bons exemplos desse cuidado. Inventos nos dias de eventos...nunca dão muito certo!

Mas naquela noite decidi que mudaria aquela minha “imagem” e resolvi inovar.

Embora não seja expert em "cozinha", também não chego às raias do ridículo, pois sei fritar ovos, cozinhar “miojos’ e fazer arroz.

Assim, aproveitei minha certa habilidade em risotos, e decidi que aquela seria minha noite de glória...na cozinha.Colocaria o melhor cheff do mundo sequer aos meus pés.

E assim foi.

Comecei pelos preparativos da mesa: toalha, louças, copos, talheres, flores, vinho... tudo na mais perfeita ordem.

Depois parti para os ingredientes do prato principal: RISOTO DE LARANJA AO MOLHO DE MARACUJÁ.

A receita prometia ser fácil e infalível! Um sucesso!

Processei todos os temperos, alguns até sofisticados demais, como Vinho do Porto para o cozimento, e um toque de Cury.

Segui tudo timtim por timtim! Não mudei uma vírgula sequer do que me fora orientado num desses programas televisivos de revista feminina. Conto o milagre mais não conto o santo.

O odor inundou a minha cozinha.Delícia! Aquele cheirinho de cebola dourada no azeite, se arrefecendo no vinho do porto, a polpa dum maracujá agradecendo pela participação ,e laranjas que cortadas em cubos cediam seu colorido especial à alquimia.

Mas me surgiu um inesperado.A laranja da receita não tinha grandes especificações, acho que devia se laranja–pêra, a mais comum, mas naquele momento eu só contava com as limas-da -Pérsia.

Mero detalhe, pensei. Afinal, tudo é laranja mesmo! Esqueci de lembrar que, em qualquer arte, são justamente os detalhes que fazem a diferença.

Terminado o cozimento, fiz como mandaram: Misturei ao arroz uma porção de manteiga e parmesão, e lá estava o prato pronto numa consistência de dar água na boca.

Não experimentei, afinal, acreditei que o odor já me garantia o sabor.

-Mãe, que prato lindo!-disse-me minha filha ao passar pela cozinha.

Senti firmeza.Esperei pelo acontecimento maior.

Ao chegarem os amigos, já fui me adiantando:

-Gente, hoje o prato será inesquecível! Aposto que nunca experimentaram nada igual!

Sentamo-nos à mesa, e vi que minha filha arregalou os olhos na primeira mastigada.Não se conteve:

-Mãe, o que é isso?

Resolvi saborear.Impossível!O arroz era um risoto de fel! Amargo demais da conta!

Era um castigo!Lembrei-me da laranja...só podia ser ela! Ela e sua película de fibra branca, que cozida, estava insuportavelmente...amarga.

Contemporizei.

-É... pura “ vitamina C”! Tomei esse cuidado.Um prato que além de bonito e cheiroso...tem fibras e é antioxidante!

Naquela noite percebi que tinhas amigos...de verdade. Engoliram o risoto a goles de vinho branco ,felizes com a poção anti envelhecimento. Nenhum comentário contra! Ou melhor, apenas um:

-Mãe, você só acertou numa coisa: esse seu prato realmente será inesquecível...acredite!

Percebi que lá no fundo... todos concordaram com ela, inclusive eu.