MALANDRO EM SUA CIDADE E OTÁRIO EM BRASÍLIA
Eurico (que não é o Eurico Miranda do Vasco) ganhou uma eleição para deputado federal e pensou logo na vida boa em Brasília.
-Em Brasília vou deitar e rolar. Lá serei o “Rei da cocada preta”. Sou bonito e tenho uma “lábia afiada”.
- Lá em Brasília tem também “cobra criada”. Alertava o amigo Arnaldo.
-Que nada! Lá só existe babão.
-Devagar...
Eurico se mudou para Brasília e como malandro inveterado procurou a noite de Brasília para se divertir. De cara encontrou uma velha e manjada “pastinha” (quenga de político em Brasília). Logo se amancebou:
-Agora estou na boa com essa quenga, que em Brasília é chamada pelo sugestivo nome de pastinha.
Pelo dia era enturmado com os políticos ficha suja e à noite era encastelado com a pastinha chamada Mirabel.
-Vem cá, Bel! Eram somente mimos e amores com a tal de Bel.
-Eu quero fazer parte da Comissão da Justiça! Exigia o deputado para os parceiros de partido.
- Você é um parlamentar novato na área. Deixe para os mais experientes. Você tem que aprender o manejo.
-Em minha Terra eu sei de tudo! Lá eu sou um dono do pedaço.
-Aqui é diferente. Tem que haver coligação. Tem que ter jogo de cintura.
-Eu não sou bailarino para ter jogo de cintura!
Para acalmar o novato político deram uma comissão sem importância para ele se conformar.
- Tá bem! Lembre-se que eu quero ser destaque aqui em Brasília.
Eurico não perdia uma sessão.
-Eu quero é estar por dentro dos bastidores. Dizia o avarento político.
Na hora de escolher a bancada foi um Deus-nos-acuda. Foi até a BANCADA DO BOI e lá foi recebido com frieza, uma vez que queria ser um dos chefes.
-Nem pensar! A Bancada do Boi é uma bancada forte e respeitada aqui no Congresso. Ninguém vai querer um novato na praça.
-Em minha terra eu tomei conta de sindicatos, associações e até partidos políticos.
-Sua terra é sua terra. Aqui mandam os caciques políticos.
Um dos chefões olhou para Eurico e fuzilou:
-Vá procurar outra bancada que no boi não há pasto para você.
Procurou a Bancada Sindicalista e lá começou a lorotar:
-No Brasil existe mais de 15 mil sindicatos. Sindicato X existe somente para arrecadar verbas e nada faz em prol da categoria.
Um sujeito que pertence aquele sindicato citado não gostou da explanação do novato e balançou a cabeça negativamente.
-Sindicato Y é feita por pessoas pelegas.
Um indivíduo que pertence o sindicato Y em silêncio não aprovou a ideia do Eurico.
-Sindicato forte não tem medo de retaliações de patrões. Pode acabar com o imposto sindical que nós dos sindicatos estaremos vivos.
Foi um chute nos testículos da bancada sindicalista.
-Ai dos sindicatos se não fossem os pelegos. Gritou um sindicalista veterano e acostumado a mamar nas tetas do governo.
-Em minha terra eu deito e mando no pedaço.
O sindicalista veterano deu um tiro de misericórdia no assunto:
- Por que você não se candidatou a deputado estadual e ficou lá mesmo em sua terra.
Foi procurar a bancada da Bíblia:
-Aleluia irmão, o que queres?
-Quero me entrosar na bancada.
-Que bancada?
-Da Bíblia.
-Fique sabendo que não recebemos herege.
-Deus procurou os doentes para curar. Filosofou Eurico.
-Sabemos disso. Que religião segue?
- Religião X.
-Hum.
Que partido político segue?
-Partido X.
-É o partido de fulano de tal.
-Sim, mas quero alcançar algo de destaque aqui em Brasília.
-Hum.
-Têm vícios?
-Sou mulherengo.
-Hum. Gosto de quem é sincero. Quer um conselho?
-Quero.
-Aqui em Brasília poucos falam a verdade.
-Quero um lugar de destaque aqui na Bancada da Bíblia. Olhando vitorioso soltou:
-Sou um homem que não minto.
Hum. Passe outro dia, que daremos a resposta.
Não foi aceito pela turma da religião. Foi procurar a BANCADA DA BALA. Tirou o terno, colocou um chapéu de couro, meteu um trinta na cintura e foi até a bancada.
-Estou vendo que o senhor é um legítimo representante da nossa bancada. Salientou o chefe do famoso grupo político. Olhando o gabola e novato político.
-Chapéu e calça de couro, trinta e oito “canela fina” na cintura, cinturão de cowboy. Quem é seu dono lá em sua terra.
Sentindo-se humilhado vomitou:
-Eu não tenho dono. Não sou cachorro.
-É minha maneira de se expressar. Qual seu chefe político? Quem é o coronel político de sua área?
-Em minha terra mando eu. Conseguir meus votos com meus esforços. Com minha poderosa “lábia”.
--Ainda usa “Canela fina”?
-Uso. Não está vendo? Inocentemente tirou o revólver e dá uma demonstração da sua agilidade no manejo da arma.
-Em minha Terra eu deito e mando.
Vendo aquela arma singular e as acrobacias ridículas do político, a velha raposa da política nacional dá logo o parecer:
-Aqui em nossa bancada nós gostamos de pessoas que usam armas de grossos calibres como fuzis, metralhadoras, bazucas, mísseis e até canhão.
Sem dó nem piedade esclareceu:
-Infelizmente os nossos financiadores deixaram de fabricar esses tipos de armas. Vá procurar outra bancada.
Ainda tentou as bancadas dos Direitos Humanos e outras mais nada.
-Pegue um glossário parlamentar e vá falar o linguajar deles. Aconselhou o amigo Arnaldo
-Tudo bem! Procurou um dicionário político e aí a coisa piorou.
-Um matuto sem eira nem beira querendo falar difícil aqui em Brasília. Gritou um político corrupto de cadeira cativa do Congresso.
-Ele quer é nos intimidar. Satirizou outro com um sorriso estampado.
-Um “Barriga verde” querendo ser sucesso aqui em Brasília. Brincou o outro
A fama de loroteiro espalhou.
Um dia vou ser destaque. Em minha terra eu deito e mando.
A noite tinha a velha amiga pastinha para o consolo. Virou político independente e atirou às cegas.
-Fulano de tal é corrupto!
-Devagar. Aconselhou o amigo.
-Sicrano é fuleiro!
-Olha a ética.
-Beltrano é trapaceiro.
-Devagar que o Santo é de barro...
Um dia mandaram assinar um documento em branco e o político novato que queria ser famoso na política e participar de uma famosa bancada conseguiu seu objetivo.
Hoje faz parte da bancada da papuda e seu nome está estampada em todos os grandes jornais da nação.