General da GNSN
Anos setenta. Seu Onofre era um modesto funcionário da CHESF. Morava numa vila modesta em casa própria no nordeste.
Recebeu uma visita pouco comum. Um vizinho que admirava seu Onofre pelo que falavam na região. Pouco vinha visitar o seu Onofre; era muito caseiro. Mas era muito crédulo e apenas um conhecido da família. Apenas um vizinho.
Na verdade, aquele visitante incomum do seu Onofre ficou curioso das fotos imponentes que moravam, carinhosamente, em cima do móvel da sala: uma televisão em preto e branco, simples como a família. Curioso por pouco tempo, pois logo interpelou ansioso:-Quem são, seu Onofre?
Seu Onofre, assumindo um ar importante, superior, inflando o peito, de modo pausado, orgulhoso e comedido arrematou:
-Ora seu Nicanor, este aqui é o meu filho Onofre. E esse ai, o meu sobrinho Otelo. Este aqui, de farda azul é o Onofre. Lembra dele? Ele é tenente...da nossa Marinha. Esse aí, é o Otelo, meu sobrinho e genro. E completou: da Aeronáutica! Sargento! E, orgulhoso, pomposo, completa: aqui todo mundo é militar.
Espantado...E surpreso com aquele inesperado novo conhecimento-num período de governo militar, de siglas complicadas SNI, CIM, CIE- seu Nicanor continuou:
-Seu Onofre, o senhor também é da farda?
E disparando rápido, seu Onofre metralha: -Sou! Sou General...General reformado da GNSN!.
Espantado, miúdo, confuso, enrolado e assustado com a palavra general e com a sigla SN-não-sei-o-quê, ele retruca, já se despedindo:
-Seu Onofre!... Não sabia que o senhor era militar e dessa patente!
O meio-vizinho, meio-conhecido, meio-assustado Nicanor não quis saber de detalhes...Nem quis esclarecer o que aquela sigla tão enrolada significava, o que certamente daria continuação ao papo e provocaria nele uma gostosa gargalhada. Preferiu, talvez com receio de passar recibo de ignorante, calar e sair de mansinho.
Assim, jamais soube que seu Onofre fizera uma brincadeira com ele e, na verdade, General Reformado da GNSN significava apenas e nada mais que General Reformado da Guarda-Não-Sois-Nada...