O Dia Em Que Morri
Ah! Eu estava calma. Mas perplexa olhava as pessoas ao redor. Umas pareciam estar felizes, - descobri aquelas que apenas me aturavam -, era, cá para nós (eu e mais alguns desencarnados) muita cara de pau ir ao meu enterro.
Virgem Maria, como tem gente dissimulada nesta terra! - fiquei imaginando. Outras pessoas choravam tanto que iam acabar desidratadas. Tivesse eu como dizer à elas que a morte é uma bobagem e tudo ficaria bem; ou não! Tem aquela coisa de espírito do bem, espírito do mal... Sabem como é, né mesmo?
Tudo bem, vocês me dirão que é triste perder nossos entes queridos... Depende. Se vemos a morte como o fim de tudo vamos nos enterrar vivos, amigos. Ah, se vamos!
Confesso que tentei me comunicar com algumas pessoas, falando e gesticulando como uma louca... Não consegui. Ninguém me notava!
E lá pelas tantas me aparece uma amiga da família me perguntado:
- O que é que você está fazendo ai?
Ah, gente! Aí que quase dei um troço! Que susto! Nosso Senhor, achei até que não era comigo. Olhei para um lado e outro ... Mas voltava a olhá-la e ela fixava seu olhar nos meus, como se eu fosse obrigada a entender tudo o que acontecia daquele lado. A mulher me deixava ainda mais atônita e eu eu já nem sabia de que lado realmente estava... Dizia ela:
- Acomode-se quieta que logo alguém chegará para buscá-la. - Eu: - Como assim ? Me senti o cachorro da pracinha onde ia aos domingos tomar sorvete. Desconfiada de tudo é de todos. Quem apareceria para me buscar? Pra onde iam me levar?
Daí que comecei questionar o que era ou não pecado. Estaria eu em palpos de aranha?
Quantos pecados cometi... Não lembrava! Ou será que era uma pessoa mais ou menos santa ? Afinal, fazia doações para azilos, gostava de cachorro, periquitos, papagaios... Sempre tratava com respeito pessoas idosas. Até as ajudava atravessar as ruas movimentadas. Adotava-os - todos - como avós
Fiquei ali rezando e esperando aparecer o tal pessoal de branco que já tinha observado em filmes e murmurava: ''seja lá o que Deus quiser''.