TÉCNICA DE VENDA

Ás vezes, minhas viagens levam-me entre Araçatuba, Campinas e São Paulo.

Dias atrás, estava em São Paulo e, bem tarde da noite, voltei a Campinas.

Fazia frio, muito frio.

A televisão anunciara seis graus.

Quando parei num restaurante perto de Jundiai, por volta das duas horas da madrugada, a sensação térmica estava bem abaixo.

Frio de matar passarinho.

No local, o posto de combustível está em reformas e, entre ele, o restaurante e o estacionamento, em lugar resguardado da chuva e do vento, há um amontoado de tijolos dispostos em círculo.

Esperei ali pelo meu companheiro de viagem.

Debrucei-me sobre a pilha e vi coisa estranha no centro.

Dezenas de redes nordestinas estavam distribuidas de modo a servir de cobertores.

Pelo movimento ondulado das redes, deduzi que várias pessoas tentavam dormir ali ao relento.

Uma pena.

Devia ser sacrificado estar ali, no concreto e naquelas condições, protegido apenas por algodão rústico.

A reflexão fez-me esquecer antigas lições de vendedor.

Se algum leitor, porventura, já fez curso de venda, sabe que a primeira regra para quem vende é oferecer seu produto em toda oportunidade.

O que aconteceu a seguir, no entanto, extrapolou a imaginação do melhor orientador.

Pois bem.

Naquele momento, às duas da madrugada, frio de matar passarinho, um daqueles homens, que tentava dormir no piso gelado, sob o amontoado das redes, colocou a cabeça de fora, piscou, piscou, piscou, fixou-se em mim alguns segundos, apontou-me o dedo e disse:

_____ Quer comprar uma rede ?

12-08-2007