DA CULTURA INÚTIL
Possuo um bom estoque de conhecimentos que não interessam a ninguém e que nunca na vida me serão cobrados (a não ser, talvez, em algum Show do Milhão). Cultura adquirida nos almanaques Renascim e Sadol.
É verdade que algumas vezes consigo encaixar uma dessas jóias em assuntos que nada têm a ver: num sermão nos filhos, aproveitei para mencionar que Lewis Carrol era canhoto e, num lance monumental, incluí na pauta de uma reunião de serviço a importante informação de que a lebre-do-mar possui a vagina no centro das costas (vejam só, nem ao menos conheciam a tal de lebre-do-mar!).
Certa vez, quase fui expulso de um salão de cabeleireiro ao dar aos freqüentadores o informe de que o pênis do elefante pesa cerca de 30 quilos. Está no almanaque! E se trata de uma informação de peso! Isso, após haver comentado que a origem dos hamburguers era a carne crua que os tártaros sovavam debaixo da sela, em suas viagens a cavalo. Claro, não tinha percebido que uma das freguesas saboreava seu cheese.
Mas, quem sabe, algum desses conhecimentos seja a senha para entrar no Paraíso e então colherei na outra vida os frutos de minha sapiência. Imagino S.Pedro, diante da extensa fila de candidatos, chamando-os para serem sabatinados: responda, meu filho, quantos livros escreveu o escritor Michel Zèvaco? Qual a quantidade anual de relações sexuais do pingüim-imperador? E qual o feminino de elefante?
Chamam a isso de cultura inútil. Mas que diabo, ninguém mais terá tempo para amenidades? São informações que não garantem a empregabilidade, não proporcionam auto-ajuda, mas são deliciosas para digerir, pura satisfação pessoal. Ao ouvi-lo esparramando informações, todos julgarão que você é um portento, você será tachado de intelectual (melhor do que ser taxado pelo imposto de renda, não é mesmo?). Além disso, você está arriscado a faturar uma nota num novo Show do Milhão.