DAS “OUVIDORIAS” SURDAS: “EI, TÁ ME OUVINDO?”

*fato verídico mesmo!

Então, quem de nós, na qualidade de cidadão, já não procurou pela resolução milagreira duma ouvidoria, não é mesmo?

Normalmente, a tal instituição é o último recurso para dirimir um sufoco da vida cotidiana emperrada, é a luz no final do túnel do descaso cidadão; e chegar até a uma delas (são infindáveis as ouvidorias para tudo!) depois de passar por um montão de caminhos fechados pela robótica inercial dos seres e da nossas telefonias atuais, realmente é algo para se comemorar e agradecer ao santo das causas quase impossíveis.

O quê?

Você já conseguiu chegar com êxito? E sem cair nenhum sinal? Nem um sinalzinho de que você está jogando palavras ao vento?

Parabéns, você é uma pessoa abençoada independentemente do resultado da sua ausculta!

Registrou sua queixa? Foi gravado? Deixou todos os números da sua cidadania registrados? Tem certeza que tal não voltará contra você? Acredita que seu problema será solucionado? A sua ouvidoria foi PÚBLICA OU PRIVADA?

Acredita que essa minha pergunta faz alguma diferença na tarefa “end point” de resolução do óbvio?

Que nota final você deu ao “sistema?” Digitou corretamente a nota do seu desespero?

Depois de tudo isso vou tentar lhe clarear as idéias CULTURAIS sobre OUVIDORIA.

Bem, vou apenas exemplificar algo que VIVI e VI com os meus olhos, ninguém me contou, sem obviamente entrar nos detalhes de qual instituição se trata para que ninguém me ouça...

Tem disso também: às vezes não podemos ser ouvidos, nem no sujeito ativo e nem no passivo.

Assim, eu o conheci como MANAGER duma instituição PÚBLICA há muitos e muitos anos atrás. Muitos mesmo.

Ele adorava “inglês”, eu também, e fazia questão de se auto intitular: ”Sou eu o manager disso aqui!”.

Pelo tom, ninguém nem discutia...

Eu achava aquilo lindo, forte, impetuoso.

Eu o ADMIRAVA até em inglês, embora fosse ele um manager premiado por um cargo do staff MANAGEMENT que circulava na época.

Assim, jovem e ingênua que era, eu acreditava na força gestora do todo e também acreditava que só se poderia ser um MANAGER de verdade ...exatamente como ENSINA a ciência GESTÃO, a que se aprende na universidade e ou na MBA ,ara, haveria de se ter ao menos o CHA (CONHECIMENTO, HABILIDADE, ATITUDE), o que por definição técnica se chama COMPETÊNCIA para GERIR.

Afora o óbvio do dom e da VOCAÇÃO para a liderança que vai junto!

Ara, afinal, se ser MANAGER não se trata de tarefa fácil em nenhuma língua, muito menos algo que se ganhe dum dia para o outro, há de se fazer complexos diagnósticos institucionais, de clima organizacional, tem que se ter intuição, vocação para lidar com recursos humanos, RESPEITO POR PESSOAS, olhar para todos os lados, tem que se fazer diagnósticos de área inserida, para enfim se evitar, enfrentar e resolver problemas de toda sorte. Parece simples e óbvio. Mas longe disso.

Acontece que o MANAGER era um gerente sem formação técnica e que "gerenciava" à distância. Parecia tender a mágico...

Ali nada funcionava...e não estou exagerando.

Aquilo me intrigava.

Como ele não via nada, nunca sabia do tudo errado que ali ocorria e para ele estava tudo certo.

Instalou-se o caos.

Acabou a minha admiração por ele...em todas as línguas do mundo!

E, nas poucas vezes presenciais que o víamos, quando contávamos com todo cuidado o ocorrido para lhe pedir socorro gerencial a alguém , ele logo se blindava da culpa:

“Ah, mas isso não é problema meu, é de cima, dá o número da ouvidoria ao CHATO do cliente!".

Assim era feito.

E quando as ouvidorias lhe chegavam aos montes já havia uma resposta pronta da sua parte, padronizada para todas as queixas.

"sua queixa foi recebida, será analizada e tudo faremos para solucionar sua demanda justa!"

Certa vez, um cliente se apercebeu do fato e queria lhe falar pessoalmente.

A resposta à secretária : ”você sabe que não gosto dessa coisa de ouvir gente!”.

Ok, e a vida seguia, toda emperrada, parecia até o ambiente “macromicro” público dos dias de hoje.

Certo dia nos veio a notícia de que o MANAGER, de tão competente que era, havia sido promovido na “carreira” gestora.

Um misto de alívio e curiosidade inundou o clima organizacional!

Foi o melhor clima gestor advindo dele!

Todo mundo estranhou..."como assim, foi promovido"?

Acreditei que seria promovido a algum tipo de trabalho,hoje confesso.

Foi quando alguém me explicou: “vai ser OUVIDOR da região".

Preciso contar mais? Vou contar:

O MANAGER que não gostava de ouvir VIROU OMBUDSMAN!

Não é chique?Isso eu ainda acho! Só é triste...

O inusitado: como ouvidor ele passou a NOS pedir explicações do caos que ele mesmo provocou como PSEUDO MANAGER.

As respostas às perguntas que NOS chegavam dele eram as dele para ele mesmo: As todas já padronizadas! As que nunca resolviam nada!

Nunca vi nada mais surreal no quesito MANAGEMENT, juro a quem me lê...

Então, para terminar minha história verídica, eu os convido para a reflexão do resultado do nosso todo “desouvido”...pelo tempo.

Precisa você falar com alguma OUVIDORIA/OMBUDSMAN?

Eu lhe oriento, com toda a sinceridade e experiência DESSE MUNDO: é melhor rezar para um santo desatador dos nós.

É mais rápido, mais eficiente e bem menos cansativo...

Mas lhe advirto: REZE EM PORTUGUÊS!

É mais legítimo e você não correrá o risco do santo não lhe compreender.

Aguarde com fé...que é ela quem remove as nossas montanhas.