O Pacote
Um matuto veio para a cidade e se hospedou numa pequena pensão, dessas que têm um só sanitário que todos os hóspedes usam. O problema é estar ocupado quando alguém tem uma urgência. Foi o que aconteceu com o pobre rapaz de quem estamos falando.
Não aguentando esperar ele fez o trabalho de cócoras, dentro de um saco plástico, depois fez uma embalagem com um papel de embrulho e saiu para a rua a procura de um terreno baldio para descartar a prova do “crime”.
Logo na calçada viu um ajuntamento de gente ao redor de alguém que falava alto sobre um produto que estava vendendo. O rapaz ficou curioso e se aproximou pra ver de que se tratava. Naquele tempo era comum encontrar-se na rua esse tipo “propagandista”, era assim que eram chamados. Para atrair a atenção faziam mágicas, malabarismos, ou apresentavam uma grande cobra, que ficava escondida dentro de uma mala até que ele achasse que era hora de mostra-la. Foi daí que surgiu a expressão “Fala mais que homem da cobra”.
Quando conseguiam juntar uma boa plateia começavam a vender o seu produto, que desta vez era uma balança, que ele dizia ser de precisão.
Em dado momento, com o intuito de fazer uma demonstração veio até onde o rapaz estava, e vendo que ele trazia um pacote na mão, num gesto rápido pegou o pacote e falou:
- Vocês estão vendo aqui este senhor? Pelo que vejo ele deve ter comprado um quilo de mercadoria em alguma bodega. Vamos ver se lá eles têm uma boa balança!
Botou o “pacote perfumado” na balança que marcou oitocentos gramas. O propagandista então aproveitou aquilo para incrementar mais ainda a sua propaganda: - Estão vendo? Este moço foi roubado em duzentos gramas, isto é um absurdo!
Com toda aquela agitação o pacote rasgou, e o “conteúdo” derramou sobre o brilhante prato da balança, deixando o ar irrespirável. Não tivesse o rapaz boas pernas teria sido linchado ali mesmo.
No outro dia, cercado por seus amigos e familiares, o rapaz, ainda chocado com o acontecido, dizia:
Muito cuidado quando vocês forem pra cidade. Lá quem não “descomer” um quilo certinho vai levar uma surra daquelas.
Ouvido de um tal de Domínio Público