Jogo - de cintura...?

Era brabo mesmo aquele delegado que acabava de chegar nos meados dos anos 40 à cidade goiana de Anápolis. E, movido pela rezação da mulher, não tolerava nada que infringisse a moral e os bons costumes. E ainda tinha ojeriza de turco, de que a cidade era cheia. Inda mais de turco que prosperasse...

E à medida que sua fama foi crescendo, foi bater na casa de um negociante turco - expressão redundante - lá pelas oito da noite e os pegou todos, 4, à volta da mesa, com o anfitrião Nacib, embaralhando cartas...Flagrante.

E o passo seguinte, foi na delegacia, o interrogatório. Ao primeiro, Ibraim, veio a pergunta:

- O que o senhor fazia, quando adentrei o estabelecimento:

- Ué sô delegado, eu tinha acabado de jantar, e fui lá no Nacib conversar um pouco, pra saber das novidades...

Ao segundo, Nazar, a mesma pergunta, e a resposta:

- Uê doutor, eu sou cunhado do Nacib, e como gosto muito de ouvir rádio, que não tenho em casa, tava para ouvir a Hora do Brasil, que pra mim é sagrada...

O terceiro, Ibraim, questionado, saiu com essa resposta:

- Eu tenho pavor de jogatina, só tinha ido lá para pegar umas cascas de romã para fazer um chazinho pra minha mulher que anda com a garganta inflamada, e na roda, aproveitei pra dar uma pitada...

Nacib, questionado sobre o que fazia com as cartas na mão, respondeu;

- Doutor, eu jogar? Com quem? Sozinho, ao que sei, não joga ninguém...

Foram liberados, após consulta exaustiva ao fichário da delegacia. E a revelação sobre a denúncia só no outro dia viria: fizera-a, Dona Sara, esposa de Nacib que preocupada com a saúde do marido, queria vê-lo vindo mais cedo para casa, para evitar o sereno e estar pronto para acordar cedo para a labuta diária...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 02/07/2017
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