O CORDEIRO DE SÃO JOÃO
«São João Pastor»
Ó meu jeitoso São João,
Quer em Braga, quer no Porto,
Diz-me cá sem desconforto
Porque tens cordeiro à mão?
A mim cheira-me a negócio,
Já o soube de um feirante
Que parece um bom tratante
E jurou-me que é teu sócio…
Sempre te levei a sério
E acredito qu´ és profeta
E, nesta achega indiscreta,
Esclarece cá o mistério.
Diz-me lá se é verdade
O que o povo diz para aí
Se bate certo co´ o que eu vi
Quando passei pela cidade.
O mercado já encerrou
Mas começa agora a festa
E a minha ideia modesta
Se estou errado, já abortou.
Afinal, eras ou não pastor?
Fazias ou não criação
E tinhas de Deus a bênção
Para ter´ s o Seu favor?
Eu não quero imaginar
Nem minh´ alma o presume
Ver cordeiro a assar no lume
Para um d´ licioso manjar.
Ficas mal neste dilema,
Tanto ao pobre, como ao rico,
E quando chegar o bailarico
Nem quero ver o cinema…
Não te metas em alhadas,
No Porto, em Braga ou Barcelos,
Vai haver porros e martelos,
Balões e cabeças cortadas.
Confessa-te a São Francisco
Que ele entende de animais
Teu cordeiro e outros que tais
Deverão ir para o aprisco.
Não privilegies o cordeiro
Mas, sim, toda a bicharada
Que ao Poverelo tanto agrada
No seu encanto jograleiro.
São Francisco, teu parente,
Até d´ irmão lobo era amigo
Quanto a ti, olha o que te digo,
Faz o jeito aqui prá gente.
E no próprio Vaticano,
Em que o Papa fala grosso,
Há um cordeiro no pescoço
Que nem sei se é engano.
Seja engano, sejam festas,
Que não haja por aí galo
Quando queres, és um regalo
Em romarias como estas.
Acaba lá co´ estas partidas
Vai às febras e às sardinhas
Manda o anho prás alminhas
E pastoreia as nossas vidas!
Frassino Machado
In ODIRONIAS