NÁDEGA É CONFISCADA EM OPERAÇÃO "CARA LIMPA"
Rosangela Rococó deleitava-se ao lado da piscina de sua mansão no Leblon. Amante de um empresário que estava sendo investigado por desvio de dinheiro público para campanha de um certo candidato à Presidência. O nome dela foi usado numa conta num Paraíso Fiscal nas Ilhas Canárias. Ganhou milhões nessa transação, gozava agora de sua audácia. Estendida na beira da piscina num biquíni fio dental que deixava à vista seus relevos de uma luxúria obsessiva.
Uma brecada seca na rua, o pneu de um carro arrastou-se forte na guia da calçada.
O portão da frente da mansão é arremessado à distância numa explosão. O cano de uma bazuca ainda fumegava uma fumaça ocre e esbranquiçada.
-Feijó. Inspetor Feijó, do Distrito de Crime Hediondos de Tatuapé! Crimes Hediondos contra a Economia Popular. –apresentou-se ele, vestido num terno escuro, e com olhar de coiote louco.
-E o que eu tenho a ver com isso? –perguntou Rosangela Rococó usando do maior escárnio desse mundo.
-Tudo. –o inspetor piscou os olhos.
-O que você quer? –Rosangela começava a suar nas axilas. Quando uma situação exigia do seu emocional o organismo dela reagia dessa maneira.
-Quero a sua bunda.
Rosangela Rococó lançou um olhar de devassa para o inspetor Feijó, que foi educado nos melhores conventos e mosteiros da região pedregosa de Banavento, em Portugal.
-Quer a minha bunda?! Por que não disse logo, gatão.
-Não é isso que você está pensando, ordinária. Sua bunda foi usada de maneira ilegal numa transação de milhões de dólares, envolvendo uma empreiteira, o governo e um frigorífico especializado em embutidos.
-Óooo!
-Não vai me dizer que não sabe que sua bunda foi usada de forma espúria para desviar dinheiro público?!
-Que sujeira!
-Sim, sua bunda causou muita sujeira. E vamos por um fim nisso.
-Eu lavo muito bem...
-Ótimo. Sua bunda também foi usada para lavagem de dinheiro.
-Não acredito. –Rosangela Rococó estava estarrecida com tudo aquilo.
-Pode ir acreditando. Sua bunda consta nos autos do processo da Operação “Cara Limpa”, por ironia do destino. Está descrito no caso: Dinheiro pra “arrebitar” a bunda, no documento consta como afirmativa para isso, que os pobres teriam mais casas e tratamento de esgoto. Outro item: dinheiro para “reparar danos causados por celulite”, para consertar uma espécie de “flacidez mórbida”, como afirmativa alegam que os pobres teriam mais acesso à alfabetização. E o último item: “enrijecer o bumbum”, pois as nádegas apresentavam um aspecto leitoso-gelatinoso causando movimentos aleatórios e perigosos que poderiam colocar em risco seus usuários. O que alegam aqui é mais reforço de batata, mandioca, hortifrútis e carne para as crianças maltrapilhas. Portanto, senhorita Rosangela Rococó, seu nome consta desses documentos e sua assinatura, mais que comprovada. O processo foi julgado e a senhorita condenada. Estamos aqui para confiscar a sua bunda, e leva-la perante a Justiça.
Rosangela Rococó imediatamente sacou o seu celular e fez uma ligação:
-Novelo!!! Preciso de você!!! Um inspetor da Policia Federal está aqui!!! Sim... Espera, Novelo, deixa eu falar... Tá, sei... Cala a boca, to em apuros... Sei, sei... Teu nariz... Novelo, escuta... Tá, entendi... Mas, me escuta... Esse inspetor quer levar a minha bunda confiscada... Como você pôde ter usado minha bunda nessas transações sem eu saber!!?? Novelo??? Novelo??? Escuta... Novelo??? Novelo??? Infeliz... desligou...
Inspetor Feijó retirou o seu cachimbo vazio do bolso e apontou. Com ar de vitorioso, ajeitou a gravata do seu terno bem passado, e disse:
-Te abandonaram, senhorita Rococó. –e virou-se para o seu ajudante Jabur, -Traga a bunda da senhorita.
-Mas, e a senhorita?
-Acompanha a bunda, uai.