Crise de abstinência
— Nossa, hoje você tá um gato, menino! O rapaz fitou a moça de modo sério e disse em tom de censura:
— Esse seu comportamento é totalmente inadequado, dona Márcia. Nossa empresa possui normas muito rígidas com relação ao assédio sexual.
— Ei, eu só te fiz um elogio, Roberto. E...
— Não continue, por favor, do contrário serei obrigado a comunicar o fato ao seu superior.
Márcia, uma jovem alta, esbelta, loira de fascinantes olhos verdes, marcara uma consulta com a psicóloga da empresa, o motivo? Estava se sentindo feia.
Deixara um bom emprego porque simplesmente não aguentava mais receber cantadas grosseiras dos homens. Na verdade, recebia cantada até de mulheres. Mas agora, oh, como estava infeliz! Já se passavam dois anos na nova empresa e ainda não recebera sequer um inocente elogio.
— O que há de errado comigo, doutora? Coloco uma saia curta, passo um batom provocante, uso decotes para realçar meus seios, e nada; ninguém parece me notar.
— É que os homens desta empresa foram todos castrados, Márcia.
— Como é, doutora? A psicóloga soltou uma gargalhada espalhafatosa e considerou:
— Tô brincando, garota. O fato é que aqui nesta empresa todas as mulheres são respeitadas e valorizadas profissionalmente. Não somos tratadas como objeto. É o paraíso, querida.
— Parece-me mais o inferno. Isso quer dizer então que...
— Quer dizer que você é muito bonita, Márcia — observou Gilda, a psicóloga — mas ninguém aqui vai mencionar uma única palavra sobre isso.
A conversa com a psicóloga tivera o efeito de deixar a jovem ainda mais desesperada. Definitivamente ela precisava receber uma cantada. “Agora é questão de honra” ordenava sua vaidade feminina.
...dias depois...
A sala de reuniões estava repleta de gente, quando Márcia entrou apressada porta adentro. Lançou um olhar provocante na direção de todos os rostos ali presentes, conectou um Pen drive no equipamento de áudio que se encontrava no local à disposição dos executivos, e ao som de Europa de Gato Barbieri, iniciou um striptease com movimentos lentos e sensuais
A bela loura rebolava, passando suavemente as mãos sobre o corpo curvilíneo. Lentamente, foi retirando peça por peça: sapatos, vestido, meia-calça, sutiã e finalmente, a calcinha, que foi atirada para os espectadores. Nua, diante da sua plateia, Márcia fez seu pedido:
— Por favor, tudo que eu quero é que vocês me digam que sou muito gostosa. No entanto, homens e mulheres se limitaram a baixar a cabeça.
— Mas o que há com vocês afinal? Será possível que não tem nenhum homem aqui que não seja gay? E fitando as mulheres do grupo, desafiou:
— Ah! Vão me enganar que entre vocês não existe nenhuma 'sapatão' doida para me pegar. Mas para Márcia o silêncio que vinha da plateia era desesperador.
De repente a mulher enfurecida correu na direção de um jovem engravatado que lhe era bastante conhecido.
— Você sim, acha que sou gostosa, não é, Otávio? Pode falar pra eles, pois você nunca tira os olhos das minhas pernas.
— Está enganada. Eu seria incapaz dessa atitude desrespeitosa, dona Márcia.
Espumando de raiva, a loira agarrou o rapaz pelo colarinho e ameaçou:
— Escute aqui, seu Zé Ruela! Se você não admitir que sempre quis me comer, eu juro que corto o seu bilau, entendeu? O homem começou a chorar, e suplicou:
— Não, por favor! Para mim a senhora sempre foi como uma santa imaculada, dona Márcia.
Ao ouvir tais palavras, a pobre desventurada soltou o rapaz e sem se vestir, saiu gritando feito uma desvairada pelos corredores da empresa.
Sob expressa recomendação da psicóloga, Márcia foi internada numa instituição psiquiátrica.