CONVERSA DE MACHO
Não sou de ficar ouvindo conversa dos outros. Gosto, sim, de observar gestos e comportamentos. Já flagrei brigas de casais em restaurantes e supermercados. Desta vez, não pude evitar. Estava numa mesinha de bar, sozinho, e os caras ao meu lado não pautavam pela discrição ao falar. O mais alto e magro dizia:
– Leio! Leio, sim, coluna social. Mas não é pra ficar sabendo de fofoquinha de madame, não! Essa coisa de jantarzinho, de recepção na orla, Deus me livre. Leio é pra saber quem está por cima, quem está “podeiindo”. Sou vendedor, você sabe.
O outro disse alguma coisa, e o altão continuou:
– Musculação? Não é coisa pra macho. Acaba com a agilidade da pessoa. Deixa o bumbum duro; o sujeito vai sentar, não tem amortecedor, fica se mexendo todo na cadeira. Prefiro balé. Sim, faço balé! Mas não é pra ficar dando pulinho, a munheca solta no ar, imitando cisne. É mais pra defesa pessoal. Pra se esquivar dos tiros, sabe como é, esta cidade anda muito “violeiinta”. Até meu maridão, digo, meu sócio está pensando em fazer.
– Estou percebendo. De repente, vocês podem formar uma dupla, encenar uma coreografia máscula: Átila, o Flagelo de Deus.
– Átila, não, pelo amor de Deus. Não me fale desse sujeito. Foi a minha fantasia no carnaval. Deu um azar danado. Último lugar em luxo masculino.
– Você foi ao carnaval fantasiado de Átila? – o outro aparentava estar gracejando.
– Natural! Queria que eu fosse vestido de havaiana, uma coisinha básica, dançando ula-ula? Macho tem de usar fantasiona pesada, com ombreiras, chapéu pesadérrimo, enfeites mil, coisa pra quem tem músculos.
Fui interrompido pelo garçom, pedi a “saideira” e perdi o resto da conversa. Só percebi quando o altão se levantou e se dirigiu ao outro:
– Simbora, bem!