AMIGO É COISA PARA SE MATAR, NO LADO ESQUERDO DO PEITO

AMIGO É COISA PARA SE MATAR, NO LADO ESQUERDO DO PEITO

Meu nome é Perceval Winston, no entanto, não sou o curador do santo Graal ou tão glamoroso como o outro Winston, o Churchill. Mas, tive meu nome também registrado nos anais históricos da Royal Society Britânica, onde fui agraciado com o titulo de sir Perceval, por serviços prestados à coroa.

O também sir, e amigo de armas Bretton, me acompanhou para o Brasil, para gastarmos apenas algumas centenas de libras por dia, que se transformam em alguns milhares de reais. Bretton é mais jovem, com seus 70 anos e eu com mais 10 primaveras. Ele aderiu às roupagens Tupiniquins, mas eu não consigo dispensar meu blazer. Lutei contra os alemães no pós-guerra por vários anos, mas não dispensava um bom cromo nos pés.

Bretton sempre foi um gentleman, auspicioso e brincalhão. Lembro-me que certa vez estávamos prestes a combater os inimigos, quando peguei a minha carabina, verifiquei que a minha baioneta não estava calada. Oh, God !!! Vi um sujeito correndo para a trincheira, atirei e ele continuou correndo. Fui salvo pelo próprio fogo amigo deles. Mais tarde, descobri que Bretton tinha colocado festim ao invés de balas de verdade. My lord !!! Very Funny.

Ele é um sujeito muito brincalhão mesmo. Em outra oportunidade sobre o atlântico, fomos atingidos, e ele gentilmente cedeu seu paraquedas, pois ele tinha por engano colocado o de um soldado morto. Quando saltei, para minha estupefação o artefato não abriu, a minha sorte é que havia colocado já saindo do avião em chamas o paraquedas de reserva. Ao descer perto dele, estava sério, talvez por ele imaginar que a brincadeira não dera certo.

Certa incursão na própria Europa, a temperatura estava muito baixa, provocando mortes em ambos os lados. Bretton foi me ajudar me cedendo uma bela túnica, não sabia a cor ou outros detalhes, pois estava escuro e não podíamos acender as lanternas, pois, denunciaria a nossa posição. Mas, ele não perdeu aquele espírito de garoto levado, pela manhã pude perceber que a túnica era alemã, hahaha, e só não fui alvejado, pois tínhamos poucos soldados e todos me conheciam muito bem.

A guerra finalmente acabou, fomos para a Inglaterra e recepcionados por sua majestade. Foi marcante em minha vida aquela solenidade, onde conquistei com sangue e suor o título de sir. Mais uma vez uma molecagem de meu amigo Bretton. As espadas que deveriam ser utilizadas para o quase consagramento do título, eram as nossas próprias, para que a cerimônia ficasse ainda mais representativa. No momento em que sua majestade se aproximou de mim, meu coração disparou em um ritmo alucinante. Quando tentei sacar a espada para dar-lhe ajoelhado em uma poltrona vermelha, para meu constrangimento, só havia a empunhadura. Houve alguns sorrisos, que por pouco não quebram o protocolo.

Tínhamos em mente vir para o Brasil, mas Bretton não poderia voar comigo, pois alegara problemas pessoais. No entanto, como grande amigo que era me deu sua passagem de 1ª classe. Entrei na aeronave, estranhei não ser pela British Airways, mas o avião era de primeira linha. Lá pelas tantas, pedi uma bebida, um Scoth Whisky. Fui servido com grande refinamento, e a dose, pedi que fosse apenas única, pois gostava on the rocks, ou cowboy, pois havia me acostumado com os colegas norte-americanos. Peguei o copo que estava sem gelo e degluti pelo menos uns 70% que havia nele. Oh..... my lord!!!! Parecia que tinha engolido um lança-chamas !!! Meu olhos, esbugalharam na órbita e a queimação era tremenda. Engasguei, tossi, e criei um grande alvoroço na primeira classe. Depois de um litro de água, a aeromoça (nem aqui nem na rua Alice) com um espanglês, me disse que seguiu estritamente as observações de colocar cachaça com chá preto, daí eu ter me enganado com a cor. Veio quase que imediatamente à mente: Foi o Bretton!!!

Alguns dias depois, nos encontramos no Copacabana Palace no RJ, onde achei o preço bem acessível. Fizemos várias viagens domésticas, conhecendo várias pitorescas localidades. Para não ficar parado, arrumei um emprego em uma universidade de engenharia, pois tinha grande experiência em pontes devido à guerra. Comecei até mesmo um romance com uma brasileira, que parecia uma inglesinha, de pele alva e cabelos quase cor de fogo. Bretton também a conheceu e ficamos bem próximos. Um certo dia, falei que queria casar com ela, mas uma solteira convicta, ficava realmente rubra só por mencionar noite de núpcias. Ela possuía um anel que herdara de sua avó, e pediu que usasse aquele ouro. Na época, ela também me confessou que tinha uma alergia principalmente entre os dedos e aquele tipo de ouro não lhe causava as terríveis irritações. Tive que me ausentar por um pequeno período e sabendo de antemão que deveria entregar o creme que encomendei na Inglaterra juntamente com o anel ou aliança, que chamam aqui no Brasil, pedi ao Bretton que me fizesse esse obséquio, entregando os itens a minha querida quase noiva Ana. Ah!!! Mandei juntamente com o creme, o anel, uma música da minha terra bem romântica e um bilhete explicativo. Bretton entregou os itens com pequenas modificações. A música, era de um conjunto chamado Engenheiros de Hawaii, não sei se fazendo alusão à minha profissão. Em um dos refrões da música que dizia: ‘Ana, seus lábios são labirintos Ana, despertam meus instintos mais sacanas...” Sobre o bilhete, estava escrito que ela deveria usar para enfiar o dedo no seu anel, que embora largo, era mais cômodo, bem como evitando a irritação, facilitando que o dedo entrasse e saísse. Ah! Estava quase me esquecendo, o creme que entregou a minha então ex-noiva, foi o KY.

Aprendi finalmente a ter o senso de humor de Bretton. Paguei a um sr. muito bem afeiçoado do morro do alemão, um complexo de favelas no estado do Rio de Janeiro, e disse, mostrando meu amigo Bretton: Aquele cara ali, quando militar, matou um monte de alemão. Ainda paguei, pois acho que favor se paga, sim. Amanhã vou levar flores para o meu amigo Bretton, mas me esqueci o número da rua onde ele mora, agora, definitivamente.