A VOLTA DO VELHO DILEMA, QUEM VEIO PRIMEIRO, O OVO OU A GALINHA?
Ela aparentava ter uns quinze anos ou um a mais ou um a menos, isso não importa, mas era uma garota em início de puberdade, como diria Paulo Mendes Campos, um brotinho que provoca em nossos olhos uma sensação inexplicável. Resumindo: levaria um poeta a um ataque cardíaco.
A citada mocinha entrou na farmácia, onde eu, que dizem que sou poeta, mas que não consigo encontrar uma rima pra “bacurau”, naquele meu poema que meu cunhado achou melhor usar para acender a churrasqueira. Onde eu, alojado friamente dentro do meu veículo, estacionado mecanicamente no estacionamento da farmácia, apreciava a funcionária da farmácia regando umas florzinhas vermelhas que sobressaíam mimosas de uma jardineira de cimento ali ao lado.
De frente comigo havia a prateleira de xarope e remédio pra má circulação. Eu esperava. Esperava a galinha criar dente. De repente, subitamente veio à minha mente, assim deliberadamente, quem veio primeiro ao mundo: o ovo ou a galinha. Sabe esses pensamentos que vêm sem pedir permissão, ou vêm como que nos instigando para nos preocuparmos com o assunto. Mas por quê? Por quê? Mas quem realmente veio primeiro ao mundo, o ovo ou a galinha??? Eu pensava, meditava, calculava probabilidades. Veio à lembrança Maurício quando levou Paula pro motel:
Quando já tinha terminado a preliminar, onde os jogadores haviam feito o reconhecimento do gramado, onde o craque do time bateu uma bola atrás do gol pra aquecer, onde o capitão do time ia partir entre os zagueiros pra tocar pro gol... Maurício, sussurra suavemente no ouvido dela:
“Quem veio primeiro o ovo ou a galinha?”
“Ahnnn??”
Paula quase cai da cama:
“Sei lá quem veio primeiro.”
“Então, suma da minha frente!! Esqueça que eu existo!! Entre nós está tudo terminado.”
Maurício pega suas coisas e some.
Eu ali, dentro do automóvel, tentando encontrar uma explicação plausível para este enigma que, talvez seja a razão do nosso dilema existencial, quando a mocinha, de saia de tecido fino e leve, uma saia curta, ia entrando na farmácia e uma lufada de vento ergueu a saia da coitadinha, mostrando a curvinha do seu bumbum branquelo, a mocinha, mais que depressa levou a mão para domar a saia indomável àquela altura naquela ventania. É uma coisa imprevista, quem queria ver a saia de uma mocinha de uns dezesseis anos se erguendo nesse momento? É um tanto constrangedor para a mocinha. Será? Será que a mocinha não queria que aquilo acontecesse mesmo? Ela não estaria fazendo de propósito para mostrar o seu bumbum empinado e durinho?
Só sei que a mocinha entrou na farmácia e logo vi ela procurando uma tintura de cabelo na sessão de tintura de cabelo. A saia estava mais controlada agora. Tornou a desaparecer. Em dois minutos surgiram ela e a mãe saindo da farmácia. O vento estava ali fora, sarcástico e sorrindo com safadeza, querendo erguer a saia da moça. Mas dessa vez ela estava atenta e segurava a parte de trás da saia, para não deixar o bumbum aparecer novamente.
Eu, como bom samaritano, descobri isso agora, tendo um rolo de fita isolante no porta-luvas do carro, ia sugerir que ela colasse, com pedaços de fita, a saia em sua perna. Não ia ficar esteticamente elegante, mas ia evitar de ela passar por aquela sensação desagradável (ó, Pai do céu, muito desagradável) de ter a saia levantada.
Mãe e filha se dirigiram pela minha esquerda, havia um caminhão descarregando fraldas naquele instante, elas então passaram pela frente do caminhão e desapareceram pela rua que cortava em sentido acima.
E eu fiquei ali com o dilema: quem veio primeiro ovo ou a galinha.
Coincidentemente em que surgiu a perua do oveiro:
“Olha o ovo, ovo fresquinho, ovo direto da granja. Aproveite, dona de casa, ovo direto da granja!