A pregadora

Uma amiga era muito observadora e curiosa com tudo, mas bastava estar aborrecida com alguma situação, que se tornava desatenta, no mundo da lua. Contou-me que quando começou a fazer uma segunda graduação, aproveitou vários créditos da graduação anterior e por isso, fazia apenas algumas disciplinas. Passou-se um semestre, chegaram as férias e ela ainda não conhecia todos seus colegas. É claro que conhecia todos os professores e um deles se chamava Jesus, um ótimo professor de Filosofia.

Certo dia, ela estava em uma fila. Dessas filas que não andam e que vai te deixando aborrecida. Então você se pergunta: “Por que?”, “O que estou fazendo aqui?”, “Quem inventou isso?”. Aí você coloca todo o peso do corpo na perna direita e depois você acha melhor judiar um pouco da outra e vai revezando. Dali a pouco, você já não está mais raciocinando como um ser normal.

Então, o ser vivente que está a sua frente, vira-se para trás e vai te fazer passar uma vergonha inesperada, com uma simples pergunta:

- Você sabia que Jesus vai voltar?

Naquele momento, disse-me ela, eu pensei: “Putz! Deve ser minha colega de classe, mas não me lembro dela, então, para não parecer indelicada e revelar que não me lembrava dela, eu só falei:

- Ué, eu nem sabia que ele estava viajando...”

Ela continuou:

- “Só me dei conta do fora, quando percebi seu olhar atônito e sua mudez inexplicável. Foram alguns segundos de silêncio que me pareceram tão longos. Depois, ela deu-me as costas e ficou mais muda ainda”.

E eu, mais muda do que ela, só tinha vontade de rir, não sei se da carinha dela ou da minha.

Terezinha Alves Macedo
Enviado por Terezinha Alves Macedo em 31/01/2017
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