O NOSSO PAPEL DE CADA DIA

A inconstância do incerto. A incerteza do duvidoso. A insanidade da razão ou a razão da insanidade. A confluência da lógica para o vazio da alma. A lógica do vazio. Seus traços levemente selvagens, doce às vezes, autoritário no defluxo da sua decadência. No derradeiro crepúsculo da sua curta existência vem a trágica confirmação do ato impensado. No prazer escondido do seu deslizamento pela cratera pós-erupção. Um frêmito mistura de alegria com angustia revela a sua incapacidade de ser desprezível, mas com requinte. Requinte é o nome gravado no pacote. Pacotão com doze rolos. Pacotão com oito. Pacote com quatro. Tem um slogan pra merchandising “Doces Caminhos”. Sim, claro, uma doce repugnância. Um doce asco, um doce mentecapto, um doce amargo. Um doce processo de revelar uma coceirinha atrevida. Sublime, carinhoso, às vezes seco e indecente. Suave descendo o precipício da incoerência. Rego fundo de tantas perdições. Civilizações se perderam nesse precipício, nesse abismo sem fundo onde reside um monstro bufador. O papel do corajoso aventureiro a enfrentar o terrível bufador, ou a Bufa da luta desigual da humanidade. Sinal da vitória, o guerreiro levanta-se triunfante, mas fica a dúvida: vitorioso até quando? Até ovelhas foram arrebanhadas pra confirmar a sua fofura. Uma ovelha berra perdida nos confins do precipício esperando pelo seu pastor. O pastor está preso no rego onde se lançou para salvar outra ovelha do monstro Bufa. Uma ovelha estampada no pacote desejando metros e metros de felicidade; mas até quando? Até quando? Dizem que o papel higiênico foi inventado pelos chineses há mais de 3000 anos trás. Antes disso eram utilizados para substituir o papel higiênico: pedras, cascas de árvores, telhas de casa, sapatos velhos, rodas de carroça, couro de raposas, tapetes, canto de porta, pergaminhos usados, uma espécie de tocha feita de sacas de juta amarradas na ponta de uma vara, ou até mesmo arrastando-se de bunda num chão arenoso. Na França eram usadas penas de ganso, ou o próprio ganso, mas acontecia de num dia em que o ganso estivesse de mau humor, ele avançava de bicadas.O Tarzan dava aquele grito medonho no meio da selva, talvez não pra mostrar força, mas porque errava e usava uma folha de urtiga.Mas fica, porém, a delicadeza sublime de um papel que existi para vencer a selvageria de um ser perdido nas profundezas de um estúpido precipício.

Leozão Maçaroca
Enviado por Leozão Maçaroca em 26/01/2017
Código do texto: T5893753
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