Paranóia química

Medi o volume da fase fluida.

Ainda não estava preciso o bastante, por isso troquei o recipiente por outro que julguei mais calibrado.

Não havia feito aquele procedimento muitas vezes, então minha insegurança era justificável e pertinente, havia muito em jogo.

Medi com cuidado a fase sólida. Meu ímpeto de buscar a densidade e calcular o peso correspondente àquele volume impreciso de partículas era grande, mas não havia tempo, então, com a maior expertise que pude, defini a quantidade. Pus, com cuidado, fases sólida e líquida no reator. Nessa ordem, segundo especificação técnica. Acionei o aquecimento e em pouco tempo a reação teve início. Turbidez intensa, ebulição, calor. Ajustei o cronômetro, era preciso controlar o resultado. Se a reação passasse do ponto, haveriam consequências imprevisíveis. O cronômetro emitiu o aviso sonoro do fim do período especificado. Dentre muitas incertezas, decidi ter coragem e arriscar, afinal não foi assim que a ciência evoluiu !?!? Arriscando tudo, decidi ser a minha própria versão de Victor Frankestein e forneci mais energia ao sistema, esperando poder dizer, "It's alive !" Antes que eu pudesse me dar conta, iniciaram-se os estalos, mas disse a mim mesmo, "tudo está sob controle !" Nesse momento, ouço meu telefone tocar, e ciente de que não poderia perder aquela ligação, também sentindo-me agora mais confiante por ter o domínio da reação, atendi. Uma fração de segundo pode mudar o destino e foi exatamente o que aconteceu. Tive minha conversa interrompida por um odor característico de hidratos de carbono em franca calcinação. Quando me aproximei do queimador, havia desprendimento de gás, enegrecimento e decomposição térmica ! Tudo estava perdido, todo o trabalho desperdiçado. Desliguei o queimador e ciente da minha incompetência, constatei: "Queimei o maldito arroz !"

Nictobata
Enviado por Nictobata em 24/01/2017
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