A criatura

O predador não odeia a sua presa, portanto aquele não era um olhar predatório. Era um misto de insanidade e fúria que talvez lhe desse um ar primitivo. Já havia passado por aquilo muitas vezes, mas nunca me acostumara. Não haviam quaisquer argumentos ou súplicas que apaziguassem sua ira nem trouxessem lucidez ao seus pensamentos. Até seu hálito mudara. Seu suor exalava um odor característico de maus humores, tornando flagrante a referência assertiva aos humores corporais. Sua aparência não era a de costume e olhar-se no espelho aumentava a sua ira, como se visse um inimigo do qual não podia se livrar, um algoz simbionte cuja aniquilação implicaria na sua própria, embora naquele momento a idéia nem lhe parecesse tão ruim. Não queria sair do quarto, quiçá de casa. Se saísse, pensava em cometer atos de crueldade. O flagelo alheio haveria de ser maior do que o seu e, se fosse, lhe daria imenso prazer. O estado de consciência alterado só seria amenizado por aquela substância, aquela de sempre, aquela que relutava em usar, por julgar que, ao longo do tempo, a tornaria um ser de aparência ainda mais grotesca...

- Sérgio...

A aparência não deveria importar tanto assim nesses casos extremos...

- Sérgio...

...e se essa artimanha for necessária, por que não !?

- SÉRGIO !!!!

Hã ?! Sim ?

- Compra logo o chocolate e leva para ela, é só TPM !

Nictobata
Enviado por Nictobata em 23/01/2017
Código do texto: T5890835
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