REMINISCÊNCIA
“Se no futuro eu não for o seu presente, lembre-se de que fui um pedacinho do seu passado”.
Chris
Existia em Bezerros um padre santo que jamais pretendera tornar-se um santo padre – Monsenhor José Florentino. Sábio tutor das almas, filho da Fé, a santa fé que remove montanhas e demove intrigas. Homem probo, honesto e humilde, jamais descumpriu as loas e as matinas contidas em seu breviário em detrimento a um apostolado profícuo e verdadeiro. Monsenhor das manhãs floridas, o Florentino das primaveris ou das manhãs outras chuvosas, frias dos hibernais tempos, dos plantios promissores, sempre o Monsenhor de todos nós. Verdes campos, os frutos e flores, remanso das águas ainda não poluídas do Ipojuca, o rio, a fé crescia à medida que o José Padre se irmanava aos pobres, aos sofredores e ao rebanho em geral.
“Eu juro que se eu pudesse voltar ao passado e apagar as lembranças do futuro, eu não teria cometido o maior erro, que um dia eu pensei que pudesse ser um acerto”.
Priscila Martins
Eis que Caruaru tornou-se sede do bispado, desmembrando-se da Arquidiocese de Olinda/Recife, sendo o primeiro bispo escolhido, Dom Paulo Hipólito de Sousa Libório. A paróquia de São José dos Bezerros passou a pertencer a esta nova diocese. Como sói acontecer, o bispo iniciou a sua visita pastoral às paróquias da nova diocese. Eis que Dom Paulo, o Libório do bispado, visita a cidade dos Bezerros em sua viagem pastoral. Foi aquela festa, o padre santo que nunca pretendeu ser santo padre, Padre José Florentino, recepciona o recém ungido bispo da nova diocese, com honras primiciais conferidas a um príncipe da igreja. Manoel Leite, o mais velho, se desdobrava em repiques primorosos, já que era o sineiro mor da matriz de São José. Soube-se, depois, que Dom Paulo ia à Bezerros somente para escutar a belíssima execução dos repiques do lendário Manoel Leite. Deve-se a este bispo a preservação da antiga capela de Nossa Senhora das Dores existente no colégio que traz o mesmo nome.
Na primeira visita de Sousa Libório, o bispo, à paróquia da comarca de São José, na casa paroquial do padre santo que nunca sonhou ser santo padre, dom Paulo ficou de botuca num conjunto de sofás antigos e belíssimos que compunham a decoração da casa paroquial. Bispo matreiro, vivaldino que só, fez um acerto com o padre santo, que nunca pretendeu ser santo padre, Padre José Florentino, uma barganha que somente um superior pode propor ao subordinado: o palácio episcopal, em Caruaru, carecia de um mobiliário majestoso à altura daqueles sofás que os seus olhos “jamais vira”. Em contrapartida, a casa paroquial dos Bezerros seria “presenteada” por móveis novos e modernos. Nunca vi uma troca mais escandalosa! Móveis de quinta categoria foram colocados na sala de visita paroquial.
“Quem vive de passado é museu, quem vive de futuro é cartomante e quem vive de ilusões é mágico!”
Autor desconhecido
Dom Augusto Carvalho substituto de Dom Paulo, o Libório, liberou o palácio para a faculdade de filosofia. E os móveis, onde foram parar? O conjunto de sofás que pertencera à paróquia de São José, qual foi o seu destino? São perguntas que poderiam ser respondidas: o bispado voltou ao palácio... e daí? Os móveis foram repostos no devido lugar – à sala de audiência?
Carlos Lira