QUEREM ABOLIR O PALAVRÃO

É verdade, querem abolir o palavrão. Quem é esse? Nada menos do que o professor Linotipus, meu assessor para assuntos gramaticais. Consta que o citado mestre está preparando um projeto para moralizar a nossa língua, excluindo dela todas as palavras chulas.

Como a maioria dos conservadores ingênuos, o mestre acha que pode, por um simples decreto, influenciar a linguagem do povo, fazê-lo transformar seus hábitos lingüísticos, fazer com que rudes estivadores passem a expressar-se como as delicadas damas do século 19.

A intenção do professor, no entanto, não é original. No final do século 19, um célebre purista tentou repelir alguns estrangeirismos que se alojavam na língua, substituindo-os por outros termos baseados no latim. Desse modo, futebol deveria virar “ludopédio”; abajur viraria “lucivelo”; piquenique seria conhecido como “convescote”. Que horror, não? Nós, brasileiros, campeões mundiais de ludopédio.

Um dos primeiros alvos do decreto será o famoso f.d.p. Além de extirpá-lo da língua, o digníssimo professor apresenta diversas sugestões para substituir seu significado. Vejam só: Seu descendente de uma 1. marafona; 2. hetaira; 3. barregã.

Já imaginaram alguém, após acertar violenta martelada no dedão, exclamando pudicamente: descendente de uma hetaira! É de ficar marafona da vida.

As próximas vítimas serão dois dos palavreados que mais se usam atualmente: porra e merda. Com essas substituições pensa o professor fazer um grande bem à humanidade, retirando toda a agressividade dos xingamentos. Como poderá alguém levar a sério alguém que assim se expressa: Esperma, que fezes!

Será abolido também o termo “bicha”, pois é uma palavra que lembra aquelas minhoquinhas que expelimos pelo ânus. E “viado” por estar ligado a um animal da fauna de outros países, o que pode ser classificado como um estrangeirismo.

Outras prováveis sacrificadas: peido, chulé, bunda, ce-u. Inclusive, deve ser criado o verbo flatular, com significado de expelir flatulências, ato que, aí sim, poderá ser praticado por gentis senhoritas diante de todos, sem ter do que se envergonhar.

Não sei, não, mas acho que com essas idéias malucas, o professor Linotipus vai é se fud..., digo, se copular.

Hilton Gorresen
Enviado por Hilton Gorresen em 31/07/2007
Código do texto: T586884
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