O CONGRESSO EM JUÍZO
Fazia uma bonita manhã de sol quando um anjo do Senhor visitou o juiz Abraão Moro, homem íntegro e temente a Deus e sobretudo, um homem justo.
Disse o anjo à Abraão:
– Assim diz o Senhor: Meu filho, eu tenho presenciado seus esforços para fazer justiça nesse país. Por essa razão não poderia deixar de revelar-te meu plano de destruição. O Congresso de Brasília será subvertido e se converterá em ruínas ainda pior que Sodoma e Gomorra.
O juiz pesaroso responde:
– Ó Senhor, longe de ti, o juiz de toda a Terra, cometer qualquer injustiça. Acaso destruirás o justo com o injusto? O corrupto com o honesto?
– Assim diz o Senhor – respondeu o anjo – Não se destruirá o justo com o injusto nem o honesto com o corrupto. Mas todos o que lá se encontram em seção plenária, sucumbirão. Vou aproveitar hoje mesmo que há quórum e a casa tá cheia.
– Espere, meu Senhor. Perdoe-me a insolência. Mas lá temos mais de quinhentos homens… Seria possível que dez por cento dessa gente não se salve dessa destruição?
– Houvesse lá cinquenta que não se corrompessem e eu não destruiria o plenário, por causa dos cinquenta.
Assombrado com essa resposta, Abraão disse:
– O Senhor não se ire contra seu servo se ainda um pouco insistir que se não havendo cinquenta, mas, digamos trinta homens íntegros naquela casa. O Senhor não a destruiria?
– Não destruiria por causa dos trinta.
Consternado até não poder mais, Abraão ainda ousou dizer:
– Perdão, meu Senhor. Perdoe se me torno inoportuno nesse momento. Mas se em vez de trinta (querer encontrar trinta homens verdadeiramente honestos naquele lugar também é querer demais, vai…) Se em vez desse número ridículo, houver lá vinte ou quem sabe, quinze… ou talvez dez…
– Eu não o destruiria por causa dos dez – disse Deus através da boca do anjo.
Então o juiz se resignou.
O anjo do Senhor seguiu caminhando rumo ao cumprimento de sua missão de destruir completamente aquela casa transformada em covil.
O anjo da destruição caminhando ouviu uns passos atrás de si. Voltando-se olhou Abraão que o seguia de perto. Vinha carregando um robusto porrete nas mãos.
O anjo surpreso perguntou:
– Que estás fazendo?
– Quero ir com o Senhor.
– Mas, para quê – perguntou o anjo.
– Quero aproveitar pra quebrar esse porrete na cabeça dos presidentes da Câmara e do Senado.