DIA DE FESTA NA ROÇA: O PADRE E O CAIPIRA PINGUÇO
DIA DE FESTA NA ROÇA
Era dia de festa na roça. Noite de São João. O arraiá estava animado. A festa era para arrecadar fundos para a reforma da capela que estava em mau estado. Os fiéis da região não se fizeram de rogados: compareceram em peso.
E Quinzinho do Gamelão, numa roda de potoqueiros jogando truco e bebendo cachaça, lembrou-se da festança e começou a contar mais um de seus famosos causos:
-Gente, num isqueço duma festa de São João que teve lá capela do Gamelão: Nessa festa teve de um tudo: fuguera, leilão, banda de musga, sanfonero, violero, um pagodão danado... Farriemo inté o dia clariá. Isso foi no sábado, no dumingo teve missa. Capela cheia, padre novo, viajado, bão de prosa...Ele rezô a missa falano bunito...Mais parece que ele achô que o pessoar num tava intendeno bem o que ele falava. Na hora do sermão, ele falô que quem tivesse arguma duda pudia priguntá pra ele.
-Falô das andança dele pro mundo afora, das ixperiença que teve nas viage, da vivença cum gente istranha...Falô do atraso do Brasil cus otos país, falô que inquanto o povo daqui anda de carroça, ônibus, carroceria de caminhão, o povo lá anda de metrô...
O Juquinha Tutarana, tonto que nem uma piorra, sentado perto de mim, priguntô:
-Sô padre, que negoço é esse de metrô?
O padre veno que o Juquinha tava bêbo, num quereno dá muita trela pra ele, falô:
-Ah, é um trem de ferro que anda dibaxo da terra...
Juquinha respondeu:
-Que trem trapaiado sô padre, aqui pra nóis, dibaxo da terra, é só tatu, mandioca e difunto...
-Todo mundo ficô rino, e o padre fingiu que num iscutô e cuntinuô falano. Uma hora ele falô:
-Certa veiz, quando fui in Rabá... Juquinha regalô os óio e falô:
-Inrabá? Inrabá quem sô padre?
-O padre percebeno a cagada, expricô logo:
-Rabat, é uma cidade, capital de Marrocos, país africano.
-E daí, o padre mais que dipressa incerrô o sermão...
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