A LASANHA ASSASSINA

-Gata, sem sombra de dúvida to perdido de amor por tu. Sem o cê não sou capaz de sobreviver. Os apocalipse não tem sentido sem o cê. O cê é minha fonte de amor. O meu amor por o cê é tão grande que fica espremido entre o meu coração e o esôfago. Gata, o cê é a razão de existir dos pernilongos notívagos. Gata, o cê é a razão de existir da paranoia. Gata, você é a razão de existir da psicose. Gata, o cê é a muié que eu escolhi pra nóis viver na miséria...

-Ahnn?

-... digo na miséria, na riqueza, nas doenças nas perebas e na saúde. Gata, o cê é a razão de existir das amebas. O cê produz n’eu uma sensação estranha. Até minhas glândulas sebáceas produz mais sebo. Nossa, gata, cê mora aqui?

A porta da sala é aberta num safanão e os pais dela são encontrados na varanda dos fundos. Seo Agenor passando pomada no joelho atacado de tendão de dona Joana.

-Pai, mãe!! Esse é Carrapato!!

-Annnn???

-Oi gente. Gostei dos ceis.

-Filha, como é o nome dele?

-Carrapato, mãe. Mas é apelido.

-Gente, os ceis pais da minha gata que eu escolhi pra nois viver junto até um de nois bater as botas, ceis são gente fina. Eu sempre falei pra minha gata “de onde o cê saiu é um lugar de respeito”. Eu falei pra minha gata a placenta que te envolveu é uma das melhores do mercado. É placenta com código de barra.

-Mãe, ele ficou apaixonado por mim depois que viu o meu xixi.

-O que?? – Seo Agenor fechou a cara e fechou o punho com força, espremendo o tubo de pomada, pomada espirrou longe e por pouco não acerta a testa de dona Joana.

-Mas foi só pra fim científico, gente.

-Mãe, pai, é que contei pra ele, que eu estava desconfiada de estar com dor no rim devido a uma infecção. Mas o meu gato pediu pra ver o meu xixi e constatou que não era infecção não.

Seu Agenor ficou um bom tempo olhando de atravessado para o sujeito.

-Mãe, Carrapato cozinha que é uma beleza. Ele quer convidar vocês para provar uma lasanha na casa dele.

-Eu faço questão. Pai e mãe da minha gata os ceis vão provar uma lasanha que os ceis nunca provaram.

Educadamente Seo Agenor e dona Joana recusaram o convite, dizendo que não precisava se incomodar, que uma outra vez quem sabe. Mas foram convencidos veementemente por Lucinha e Carrapato, argumentando que iriam ficar pelo resto da vida indignados e não iriam descansar em paz.

Então feito.

No próximo domingo todos iriam para a casa de Carrapato.

Carrapato estava muito feliz e emocionado. Chamou todos para uma área que havia nos fundos da casa. Havia uma mesa grande debaixo de uma espécie de coberto. Acomodaram-se todos ali.

-Vamos aproveitá gente a vida é curta. Os ceis pais da minha gata merecem todo o mió tratamento que existir na face da terra.

Seo Agenor se serviu de um copo de cerveja que foi servida pelo futuro genro e depois fez uma pergunta:

-Não repare na minha curiosidade, mas você Carrapato, é formado em alguma coisa, estuda, pelo menos?

-Sim, meu futuro sogro. Sei, o senhor tá preocupado se sua filha vai passar fome se casar comigo.. Mas fique sossegado. Eu estudo línguas.

-Óóó! Estuda línguas!

-Sim, eu trabalho no frigorífico na esteira de classificação de línguas de boi. Faço um estudo minucioso e só deixo passar as melhores. Sou bom em língua.

Seo Agenor, no impacto da declaração, quase que engasga com a cerveja, soprou tudo longe e quase acerta em cheio dona Joana, que virou de lado para apanhar um petisco num prato.

-Vou preparar os ingredientes para a lasanha.

Pouco depois Carrapato picava cebolinha, quando seo Agenor aproximou-se cauteloso e perguntou:

-Quais as suas intenções com a minha filha?

-As melhores possíveis. Quero casar com ela, funhunhá, fazer ela feliz. Eu tenho um amor por ela que é maior que qualquer coisa.

-O que seria amor pra você?

-Um grude que a gente tem que só gruda com outra pessoa que tem aquele grude.

-Grude?

-Sim, mas quando os grudes são compatíveis.

-A entendi.

Uma hora e meia depois foi servida a lasanha. Uma coisa pastosa estava dentro da assadeira. Aquela substância assemelhava-se a algo borrachudo que a faca não conseguia cortar. Com muita labuta a lasanha foi dividida e colocada no prato de cada um.

-E então, o que acharam? –perguntou Carrapato.

-Nunca vi uma lasanha tão péssima assim. –respondeu Seo Agenor, -Não vai dizer que é em homenagem á placenta da Lucinha??

De repente dona Joana, no esforço sem proporções para tirar a lasanha da assadeira, forçou muito e o pedaço de lasanha decolou e colou na cara dela, dava a impressão de uma criatura estranha das profundezas do mar que atarracou no rosto da futura sogra.

-Aaaaaaaaaaaa, tá vivo! Tá vivo!! Tirem isso de mim.

Dona Joana caiu da cadeira de costas, e todos correndo no socorro. A filha tentando no celular chamar o serviço de ambulância. O futuro genro e o futuro sogro tentando arrancar aquilo da cara da sogra. A filha gritando que a filha ia morrer. Carrapato correu consolar a futura esposa:

-Calma, gata, minha lasanha nunca matou ninguém.

No fim terminou tudo bem.

Mas sempre que tem almoço na casa do genro Carrapato, o sogro leva um porrete.

Leozão Maçaroca
Enviado por Leozão Maçaroca em 25/10/2016
Código do texto: T5802664
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