Livrando o próximo
Estão voltando da escola.
— Cara, curte essa frase do autor.
— "Fazei alguma coisa. Livrai-me deste mal." Sim. E daí?
— Isso não faz sentido. Como livrar alguém de algo?
— A frase está na segunda pessoa do plural. As pessoas nem falam assim há muito tempo. Você não deve ter aprendido isso quando veio pro Brasil, né?
— Não, mas consigo entender. Fazei é de fazer. Livrai é de livrar.
— Sim.
— Mas você livra de algo? Não seria com algo?
— Com algo?
— É ué. E o pior. Como livrar alguém com o mal? Não dá pra pegar no mal. Mas num... sei lá, num livro dá. E usar a palavra livro seria redundante. Esse verbo deveria ser daqueles sem complemento.
— Sério, não estou entendendo... Me dá um exemplo.
— Eu posso livrar você.
— De quê?
— COM o quê!
— Olha. Ok. Quer saber? Vai. Me livra.
Com gosto, o estrangeiro dá uma livrada na cara do amigo.
— Gringo idiota! Livrar não vem de livro.
— Ah, não... E ancorar vem de quê, senhor nativo?