DO MEU “MICO”: “AFTER WORK”
Minha história engraçada começa quando, dia desses, depois do trabalho, fui tomar um cafezinho , mas antes parei em frente a uma vitrine duma famosa loja de lingerie (famosa para as mulheres, e quiçá para os homens que custeiam e/ou apreciam as tais INOVAÇÕES) para APENAS observar uma “peça” que me chamou a atenção. Não pelo bonito.
A princípio não se tratava dessas “armaduras” sensuais que encantam os mais exóticos, ou muito menos duma delicada obra de arte da alta costura, de rendinhas valencianas, que atiça o comprar compulsivo dum ser mais sensível; pelo contrário, se tratava de algo bem ESQUISITO, que não cabia nem como lingerie, nem como pijama, nem como “pret a porter”, muito menos como roupa de festa...ainda que a “festa” fosse algo mais íntimo.
Obviamente que aquela era a “minha opinião”, que a princípio interessava só a mim, eu tinha absoluta noção desse detalhe de que “gosto não se discute”.
Gosto se pratica e pronto!
E mais vale um gosto...do que o dinheiro no bolso!
E se é do gosto...regalo da vida!-como já nos ensinou a sabedoria popular em tantos ditos.
E não foi difícil eu logo “me auto fundamentar" naquele meu susto pelo fato de que, hoje em dia, frente à nossa dificuldade econômica, a que deságuou gravemente no comércio, é preciso tomar muito cuidado, posto que surgem invenções inacreditáveis de moda, que ao invés de nos incentivar a consumir, nos ativam os questionamentos das enganações.
Digo que em poucos meses me deparei com vitrines incríveis, desde anúncios de vestidos de festa milionários cuja promessa de venda era de que os paetês ali, tão desgrenhadamente colocados, nos transformariam em escamas DUMA EXCLUSIVA SEREIA , até com uma simples camiseta básica pelo preço dum carro, mas cuja explicação para o “nobre valor” era a de que a peça era feita com fios de algodão legítimo, extraídos “um a um” manualmente, dos campos peruanos, e por aí vai...
Ahã...
E eu, obviamente, ao ouvir as explicações aos meus “porquês” sempre me componho para não ser indelicada com a boa vontade de quem vende.
Claro, sorrio em silêncio nos meu textos que prontamente dali já saem prontos das minhas "saias justas".
Mas no caso da vitrine de lingerie, olhei para aquela “coisa”, a aqui lhes descrevê-la talvez como um manto esdrúxulo, amorfo, talvez tipo um “macaquinho", corpo único de malha cinza defunto, nuança meio suja, todo fechado, levemente desajeitado, coroado com babado enorme em torno do colo, pescoço e ombros, que mais parecia uma fantasia dum assustado palhaço Piolim.
Tenho culpa de ter sentido assim?
Ara, mas não é nosso direito legítimo...sentir?
E conto que meu sentimento inconformado de MULHER consumidora não pararia ali.
Em flash de segundos, me descuidei e pensei alto junto a duas mulheres que estavam ao meu lado olhando a mesma peça.
O diálogo:
-Vocês viram isso?-perguntei direcionando meu olhar- que coisa mais horrível...que que é isso?
Li nas fáceis das duas uma certa...raiva embutida e não demorou para que eu percebesse que meu cafezinho “after work” seria um problemático “MICO”...after tudo!
Antes uma perguntinha às minhas leitoras :
Gente do céu, mas não temos nosso direito de consumidor, ao menos o de nos manifestar ao público e notório...nosso desagrado ao caro mico do engodo?
Então, a conversa continuou na porta da loja.
-Sim vimos, claro!-falaram as duas em canto coral- peça MARAVILHOSA!
Arregalei os olhos:
-Como assim , m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a?- perguntei meio sem graça, inconformada mesmo.
-Isso é uma obra de arte, não percebe? -Chiquérrima, elegantérrima, último top de moda em Paris!
Engoli seco...e continuei toda humilde...tentando aprender.
-Ah bom, tá, mas dormir com isso em Paris? Me parece estranho, um desperdício! Que Homem gostaria disso, G-E-N-T-E?-perguntei já me desculpando pela minha mundial ignorância fashion.
-Isso não é para dormir. Está escrito ali, ó, é a nova moda “AFTER WORK”, uma nova proposta de estilo, “a senhora” não viu a informação no folder?
Obviamente que aquele “senhora” já era revanche, porque eram ambas da minha geração, ao menos! Acredito que até pra mais!
E arremataram na plena salivação: e “pense” senhora, essa peça fica maravilhosa em mulheres altas e magérrimas...
Claro, não era eu! Graças!
Eu realmente pensei...e repensei aquela peça.
E nada de eu mudar de opinião! Mas me revoltei comigo mesma.
-Ah, tá, agora aprendi e entendi, ahã, com certeza não seria para mim mesmo, mas decerto uma proposta para relaxar depois do trabalho-conforto ! -deve ser essa a principal mensagem do estilista...a de nos “ blindar” do stress. Ok, bacana.
E lhes conclui:
-Mas que conforto caro, hein, prefiro o natural custo/ benefício do estilo Eva “after-work”.O que acham?
Sorri, me despedi ..."repensativa".
Quatrocentos reais só para relaxar “after work” com aquele pano "tipo usado", assombroso, me pareceu insano demais...e nem se tratava de fio algodão peruano colhido "um- a- um" manualmente...saí dali muito stressada, mesmo.
De fato, aquilo não seria moda para mim.
Não demorou para que eu, terminado o meu cafezinho “after work”, repassasse pela mesma vitrine de lingeries dos chiques.
Conto que as duas senhoras elegantérrimas ainda estavam por ali...mas, dessa vez, dentro da loja.
Uma delas, a ON WORK, descobri que era a gerente de vendas.
A outra, lindérrima, chiquérrima, elegantérrima e bobérrima... acabara de consumir a tal peça “AFTER WORK”, a que lhe poderia fazer "desestressar", depois de stressar no rotativo do cartão de crédito, em pesadas prestações a se perder de moda.
STRESS AFTER SHOPPING, nos tempos de hoje, já seria um diagnóstico certeiro...
Contemporizei-me do ocorrido!
Tem hora que é melhor engolir a sinceridade e, AFTER WORK, bom mesmo é se fingir de morta...estilo...”como chegamos ao mundo surreal”, esse ,do atual WITHOUT WORK...para todos.
Nota, Verídico, obviamente.