E TUDO O MANETA LEVOU
“A revolta de Vizela”
Velhos tempos da abundância
Naquelas terras do norte
Até dava para a ganância
Da bela vida e da sorte.
No presente não há semelhança
Mas apenas coincidência
E até sobra para a folgança
E limpeza da consciência.
Mas há quem lembre o ditado
Do “vai tudo pro Maneta”
Fica pois o caldo entornado
E o pobre povo sem cheta.
Vieram por cá os franceses
No tempo do Napoleão
Deram cabo dos fregueses
De toda esta região.
Nos campos foi roubalheira
E não escapou a fabriqueta
E até o que havia na algibeira
Caiu nas garras do Maneta.
Muita gente foi desfolhada
No pão que o diabo amassou
Agora, sem mais nem por nada,
Tudo o Maneta levou.
“E que ele as mãos não esfregue
Julgando que este país é seu:
Será do demo que o carregue
E também de quem lho deu.”
Tal foi a raiva e o chinfrim
Que até a garota Marieta
Do alto do seu varandim
Lançou o penico ao Maneta.
Vingou-se Moreira de Sá
Quando chegaram os Bretões
Surrou o Maneta co´ a pá
Pra algazarra dos foliões.
Gritavam todos ao molho:
“Ó Loison, come e dança
Mas põe a cabeça de molho
Já que não tornas a França.”
Pegaram-no p´ lo cu-das-calças
E foram-se à ponte romana
Mas ficou preso das alças
Por cima da caravana
E assim escapou o Maneta
Não voltando a fazer guerra
Com os seus pôs-se na alheta
Para sossego da terra!
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA