UM CAMINHÃO PIPA NO LAGO DOS CISNES
Academia de dança Vôo da Gaivota. Naquele momento um ensaio de balé, O Lago dos Cisnes. Laerte rodopiava graciosamente pelo palco, Graciane, então esperava Laerte terminar seus corrupios para então ele vir enlaça-la pela cintura e então, ela seria erguida do chão, ao som da música, e os dois seguiriam rodopiando até alcançarem o lago, onde um cisne de isopor, com o pescoço meio caído e caolho, esperava com a sua melancólica vontade de cisne.
No momento exato em que Graciane foi alçada do chão. Póóóóómmmmmm!! O estrondoso som de uma buzina de caminhão fez Laerte perder a concentração e ir atabalhoadamente com Graciane nos ombros, desesperada e gritando, se estatelarem em cima do cisne.
-Ei!!! Tem alguém ai?
Uma voz grossa e rouca foi ouvida por trás do tapume da porta de entrada. A professora de dança foi verificar.
-Olá, moça, eu sou Bonifácio. É que preciso estacionar um caminhão pipa aqui ao lado para lavarmos uma piscina.
A mulher ficou uns segundo olhando fixa nos olhos de Bonifácio, o motorista do caminhão pipa. Depois respondeu:
-E o que eu tenho a ver com isso?
Lá atrás os dançarinos. Laerte tentando levantar Graciane. O cisne de isopor tinha virado um monte de fragmentos irreconhecíveis. Graciane havia engolido o bico do cisne.
-É que há uns carros estacionados exatamente no local em que tenho que estacionar o caminhão pipa.
-Sei. –a professora mostrou o estado em que ficou os seus dançarinos e o pobre cisne. –Olha o que o senhor causou.
Bonifácio ergueu a cabeça para observar por cima da professora.
-Mas e o caminhão pipa?
-Problema seu.
-Meu patrão não vai gostar.
-Problema seu.
-A senhora tá sendo indelicada comigo. Sou um moço bão.
-E eu devo ser a moça má. A bruxa.
-Até que a senhora dá um caldo, com todo o respeito.
-Que atrevido!!
-Descurpa as minha ignorância. Eu sou um moço bão. Fui criado numa família rígida. Nem calçola de moça secando no varal eu olhava pra não ficar doente do zólho. Mas a senhorita tem de compreender que preciso estacionar o caminhão pipa e preciso que os carros...
-Problema seu.
-Mas...
-O senhor sabe que atrapalhou o ensaio de balé. Olha o que sobrou do cisne.
-Se a senhora quiser arrumo um marreco para a senhora.
-Mas que ousadia.
-Ele tá meio manco, mas serve.
-Uuuuuuuuuuu!!
-Minha senhorita, preciso estacionar o caminhão pipa.
-Só por cima do meu cadáver.
-Mas entenda, senhorita...
-Entenda o senhor. O senhor estragou a simbiose... a osmose do espetáculo.
Bonifácio arregalou os dois olhos:
-Isso é de beber?
Daí um pouco baixou a policia. Os policiais exigiram documentos de todos, até dos bailarinos. E então chegaram num consenso. O caminhão pipa então poderia estacionar, desde que um novo cisne de isopor fosse restituído no ensaio de dança.