O QUE TEM TAÍ.  (Sarapatel)

Certo dia, num passado longínquo, um vizinho, amigo, resolveu fazer uma festinha de aniversário para quebrar a rotina. Convidou a vizinhança mais chegada ao seu rol de amizade e anunciou que faria um sarapatel, isto para eliminar de primeira quem não gostasse do cardápio. Eu, por exemplo, só confio no feito em casa, essa coisa de miúdo de tripa, por mais que limpe sempre fica um cheirinho suspeito. Mas fui, em consideração ao amigo. Bem, acontece que a notícia da festinha se espalhou por todo o bairro, não se sabe como. O fato é que todos queriam quebrar a rotina, já que o marasmo era desanimador. E notícia quando se espalha toma a forma da boca de quem a transmite e dimensão de quem a interpreta. Sem saber da "viralização" da notícia ( na época era boca-a-boca), o aniversariante calculou o tamanho da panela pela quantidade de convidados mais íntimos, sem excluir quem gostasse ou não de sarapatel. Casa iluminada, vitrola nas alturas, portão aberto aos convidados, que chegavam aos montes: rapazes com namoradas, mocinhas com pai mãe e avó, crianças procurando o bolo pra cantar parabéns etc. No corredor, sentada num cantinho, minha cunhada, esposa de meu irmão, esta convidada juntamente com minha família, não parava de rir ao ver os penetras perguntando se tinha brigadeiro, empada, guaraná Frateli-Vita, cerveja etc. O aniversariante olhava para um lado e outro preocupado, sem saber responder aos pedidos. Eu, muito curiosa, já tinha ido na cozinha constatar e vi que a coisa era séria. Uma panela menor que a de minha avó, que costumava cozinhar a feijoada domingueira da turma lá de casa. Dei uma olhada no salão onde muitos dançavam ao som da música " Encosta tua cabecinha no meu ombro e chora". Minha irmã, a mais velha, hoje em outra dimensão (e aqui vai a minha saudade), que estava de namorico com um rapaz de outro bairro, cantarolava a música, toda apaixonada. Eu não conseguia relaxar e minha cunhada não parava de rir, e, até hoje rir quando lembra do pobre do aniversariante pedindo desculpas aos seus verdadeiros convidados, pois a essa altura a panela do sarapatel já estava vazia. Foi quando um mal educado penetra perguntou bem alto ao aniversariante: Tem mais alguma coisa pra comer? E o aniversariante, nervoso, respondeu mais alto e em bom som: O QUE TEM TAÍ.

Sempre lembro dessa resposta do aniversariante quando alguém reclama do nosso cardápio político atual. O que temos TAÍ. Não é ficção.



 
Darcy Brito
Enviado por Darcy Brito em 10/09/2016
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