O DIA EM QUE ATENDI O VAMPIRO
A fila era enorme, só em meu guichê havia uns vinte clientes, coçando-se impacientes. Estava guardando troco na gaveta. Quando ergui a cabeça, dei com uma figura estranha: era alto e ossudo, a roupa preta, cheirando a mofo, fechada até o pescoço. Tinha o rosto branco-amarelado, o nariz fino e os olhos de uma vermelhidão maligna, no fundo das pálpebras empapuçadas. A voz era rouca.
– Quero trocar este cheque!
Pedi os documentos. Na cédula amarelecida a primeira coisa que notei foi a foto: o carão branco, olhos semicerrados, parecendo uma múmia recém-desenrolada. O nome: Vlad Tepevitch, natural da Romênia.
Olha, não sou uma cara influenciável, mas assisti a muitos filmes de vampiro e esse sujeito poderia fazer bonito em todos eles. Mas que besteira estou pensando! Um vampiro em plena luz do dia? E vindo descontar um cheque, como qualquer vil mortal?
Aí veio a dúvida: esses filmes contam muitas mentiras, sabe como é; e vá que vampiros não sejam afetados pela luz solar. E, depois, o sujeito deve ter sua vida econômico-financeira, fazer compras, pagar impostos... Mesmo sendo apenas uma lenda, um célebre mordedor de pescoço, acha que o cara pode escapar da mordida do leão?
Instintivamente, encolhi os ombros e fechei a gola, protegendo meu querido pescoço. Apalpei os bolsos da calça, na esperança de encontrar um crucifixo ou mesmo uma lasquinha de alho. Então ele falou novamente:
– Anda depressa, rapaz! Sabe o que fazemos na minha terra aos caixas que ficam se enrolando?
Eu não sabia, mas adivinhava. Seus ancestrais ficaram famosos pela arte do empalamento. Vlad Tepes, o famoso Drácula, havia empalado milhares de inimigos. Se você não sabe o que é isso, é melhor nem olhar no dicionário. Minhas mãos começaram a tremer.
– Num minuto, seu vamp... quero dizer, senhor Vlad.
Acho que lhe entreguei todo o dinheiro das gavetas. Se era ou não um vampiro, nunca cheguei a saber. Mas tive de amargar uma baita diferença em meu caixa.