Era Pra Ser Um Encontro Amoroso Mas Uma Formiga Não Quis Colaborar
Era pra dar tudo certo de uma maneira errada. Afranio. Tinha muitas coisas pra fazer naquele dia. A primeira cortar o cabelo. Procurou o seu barbeiro de confiança –Xerxes, o Terrível. Seria um corte de cabelo dos mais naturais possíveis, mas o possível se torna impossível.
Xerxes cortava o cabelo de Afranio comentando sobre fatos que aconteceram. A morte de Ivo Pitanguy. O grande cirurgião-plastico teve o prazer de segurar a tocha olímpica num dia e no outro teve um infarto. A tocha estava sendo uma raridade no Brasil, naquele ano de Olímpiadas.
-Que coisa, heim. Segurar a tocha, depois morrer. –puxou assunto o barbeiro Xerxes.
-Talvez era a última coisa que o Ivo teria que fazer em cima dessa terra.
-Pois é. Sempre fui fã e admirador do trabalho do Ivo.
Quando surge de repente uma equipe policial, invadem a barbearia, cercam Xerxes.
-Não tente nada. –falou grosso e alto o policial que era o Sargento e líder da operação. Os outros policiais se aproximaram já de arma em punho.
O Sargento tirou do bolso um papel, um documento que exibia um mandado de prisão ao barbeiro Xerxes Forquilha, por fazer parte uma quadrilha internacional mafiosa altamente perigosa.
-Senhor Xerxes, o senhor está preso.
Afrânio se virou na cadeira, indignado, assustado, estarrecido com o que tinha ouvido; disse:
-Ei, pelo menos esperem ele terminar de cortar o meu cabelo.
-Esqueça, cidadão de bem, não podemos perder tempo. Esse indivíduo, esse tal de Xerxes Forquilha é perigoso e não pode solto mais um minuto.
Com metade da cabeça de cabelo cortado, Afrãnio teve de se conformar com a atitude policial. Mas quando Xerxes ia ser colocado na viatura, Afrânio correu e ainda teve tempo de uma pergunta:
-Seo Xerxes, o seu pode pendurar esse pra mim?
Teve de sair pela cidade atrás de um outro barbeiro/cabeleireiro pra acabar de cortar o seu cabelo.
Sem falar que ele estava apressado porque tinha um encontro amoroso naquela noite.
Na hora combinada ele foi então de carro para a cidade próxima para se encontrar com Eva. Estava escuro, a noite iniciava. Quando a intuição de aranha de Afrãnio tilintou em sua cabeça... (sim, Afrânio tinha intuição de aranha porque quando adolescente ele fora picado por uma aranha, ficou um tempão na UTI e permaneceu com o pé na cova, perto de bater as botas, mas sobreviveu).. então a intuição de aranha de Afrãnio apitou, alguma coisa ia acontecer e aconteceu. O carro inguiçou. Escapou o cabo da embreagem. Afrânio coça a cabeça. “Era só o que me faltava.” Ele que jamais pensou passar por isso. Com uma limitação muito grande em consertar coisas, ele se pôs a pensar. Mas ele arregaçou as mangas da camisa. Se estou aqui, vou até o fim. Deitou debaixo do carro naquela escuridão, não via nada. Então decidiu colocar o celular pra iluminar.
Foi uma labuta de horas. O carro parado num gramado na beira da rodovia. Os carros e os caminhões faziam vento ao passar na velocidade. Afrãnio não ia desistir fácil.
Com muito custo ele usando sua cinta improvisou um cabo para a embreagem do carro.
Conseguiu prosseguir com o carro. Procurou no lugar combinado onde encontrar a sua amada. Se se recorda bem, ela disse que ia esperá-lo próximo de um curral, pois existia um curral, passando um pouco da entrada da cidade, sentido esquerda de quem chega. Avistou um curral, ela deve estar ali. Parou o carro, havia um vulto debaixo de uma árvore. Afrãnio foi até lá.
-Eva!? –perguntou ele apalpando o suposto vulto.
-Bééééééééé!
-Você ta esquisita, querida.
Era um cabrito. E parece que o cabrito não gostou e saiu correndo atrás dele. Mas muito esperto e possuidor de uma destreza acima da média, Afrânio conseguiu se refugiar dentro do carro. Mesmo seguindo caminho o cabrito ainda perseguia o carro e dava cabeçadas na traseira do veículo.
Numa lanchonete mais adiante uma amiga de Eva ainda aponta e diz:
-Aquele não parece o carro do seu amado?
Ele mesmo. Mas Eva depois relembrou para Afrânio que o local marcado que ela o esperaria era a Lanchonete do Bacurau e não num “curral”, onde já se viu!!
Acertaram de irem então até um motel. Eva conhecia o Motel Paraíso.
-Aconchegante. –disse Afrânio, arrancando uma formiga que estava atarracada na sua calça. Formiga saúva. Que ele não vira, mas no momento em que tentava consertar o carro, elas entraram dentro do carro.
-Formigas? Afrânio, onde você esteve?
-Em lugar algum. Devo ter pego essas formigas da beira da estrada onde o carro quebrou.
-Uuuu! Olha uma em mim.
-Calma, é só uma ou duas.
-Olha, outra formiga.
Afrânio enlaçou Eva de uma maneira semelhante a uma dança de tango, puxando-a contra o seu peito. Eva até esqueceu a formiga, que ficou espremida entre suas barrigas. Lascou um beijo nos lábios carnudos de Eva.
-Ô fartura!!!
-Afrânio, te amo tanto.
Foi nesse momento que um grito pré-histórico rasga o véu das trevas da noite. Um grito seco e estrondoso.
Bem naquele momento, uma formiga prende suas tenazes no bigolim de Afrânio.
Os bombeiros vieram o mais rápido possível. Mas Afrânio não deixava se aproximar dele com as ferramentas para retirar a formiga.
-Senhor Afrânio, temos de retirar a formiga.
-Nãoooooo!
-Não vai doer.
-Vai simmm!
Um bombeiro aproximou trazendo um alicate que tinha de cabo quase um metro e meio.
-Aaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Não se aproxime de mim com isso!!!
-Tudo bem, tudo bem. Mas, seu Afrânio, entenda, temos que tirar essa formiga daí ou vai ficar sem bigolim.
-Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!
-Vai colaborar com a gente?
-Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!
-É só uma formiga.
-É o meu bigolim que está em jogo. Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!
-Assim vai ficar difícil. Muito difícil. Afrânio, o seu bigolim ta inchando, vai ter uma gangrena.
-Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!
-Vamos tirar a formiga.
-Espera um pouco. Aaaa
-Esperar o que???
-Não sei!!!!Não sei!!!! Aaaaaaaaaaa!
Chegaram os médicos, Afrãnio foi colocado numa ambulância e levado para um hospital mais próximo, onde através de uso de anestesia, a formiga foi retirada.