CONHEÇO VOCÊ DE ALGUM LUGAR
Clotilde Das Favas, exercia a função de esteticista, fazia depilação, literalmente arrancava o pelos das mulheres e dos homens também. Conhecida no bairro como a Rainha do Pêlo Encravado. Ela tinha passado dos cinquenta, mas era uma cinquentona conservada.
Naquele dia de sábado resolveu depois do expediente passar no mercadão comprar jiló. Ela apreciava demais um virado de jiló.
-Minha amiga, você não faz idéia como é bom um virado de jiló.
-Cruzes, odeio jiló.
-Mas você deveria gostar de jiló.
-Cruzes, só de pensar em jiló sinto um calafrio. Ui!!
-Você deveria conhecer mais a energia que vem do jiló. O poder do jiló.
-Poder do jiló???!!! Cruzes!!!
-Amiga, você não disse outro dia que o seu namorado está reclamando de você. Do seu desempenho? Falta jiló no relacionamento.
-Será!!??
-Pode crê. Um dia você descobrirá os poderes do jiló. Bem, tenho que ir.
Clotilde saiu, despediu-se da secretária e da amiga.
Em poucos minutos estava no mercadão. Comprou o que tinha que comprar e foi passar na sessão de peixes.
De repente Clotilde começou a olhar aquilo. Estupefata, completamente admirada. Completamente compenetrada naquela visão. Inacreditável. Simplesmente fantástico. Como esse mundo é pequeno.
-Gente, eu conheço você de algum lugar? Não pode ser. Sim, eu conheço você de algum lugar. Claro que conheço você. De onde mesmo conheço você!? Sim, sim, conheço você de algum lugar. Mas vou lembrar de onde. Vou lembrar sim. Tenho que lembrar. Mas, você vem sempre aqui? Eu?? Eu venho sempre aqui. Mas você, é incrível, eu lembro já de ter visto em algum lugar. Nossa! Mas tenho que lembrar de onde conheço você. Puxa, você não me é estranha. Mas caramba, de onde conheço você!? Sei que deve ser de algum lugar, isso eu sei, mas de onde? Se eu forçar um pouco a memória sei que vou descobrir. Conheço você de algum lugar, isso eu sei, mas tenho que lembrar de onde. Mas de onde?? Você não me é estranha, claro que não. Só me resta descobrir de onde conheço você. Mas eu vou descobrir, ah se vou. Tchau, querida!
Quando ela veio a perceber que ela mesma estava se olhando refletida num espelho da vitrine de uma loja paralela ao mercadão.
Disfarçou e saiu de fininho.