TROCA-TROCA
Nesta época de crise, têm-se encontrado soluções variadas para reforçar o orçamento familiar. E a mais comum de todas é vender alguma coisa. Mas existem aqueles que já trazem de berço a habilidade mercantil, e vivem “fazendo rolo” com o que lhes cai na frente.
Um dia encontraram-se dois desses mercadores e, de relance, cada qual sentiu que podia empurrar para o outro alguma mercadoria encalhada.
– Não estás precisando de um bom cordão de sapatos?
Bom negociante não perde chance de lucro e o outro inquiriu: ”Quanto queres?” “Três reais”.
– Está feito. Te pago com um canivete super-equipado e tu me voltas doze pilas.
– É novo? Então te dou um rádio-relógio e embolso trinta de volta.
– Concordo. Mas incluo no negócio um jogo de pneus radiais e me dás trezentos de troco.
O outro fez pausa, pensando: vai uma moto cinqüentinha e vem, quero ver...seiscentos reais.
– Tá bom. E coloco no rolo um fusca 69 joinha, a preço bom. Me voltas apenas mil e quinhentos.
– Por esses mil e quinhentos te cedo um jogo de cozinha completo, incluindo geladeira, fogão, microondas, etc. Por apenas mais três mil pacotes. E ainda te dou uma caixa de cerveja de brinde.
– Três mil? Deixa ver... Pago com um terreno no Costa e Silva, pronto pra construir e quero de volta dez mil reais, na camaradagem.
O negócio estava engrossando. O outro arremata: jóia, parceiro. Ficas com o meu quitinete na praia e me devolves quinze mil reais. Está barato, hein!
Como o outro não possuía mais nada para oferecer, ponderou: e de onde vou tirar esse dinheiro? Vamos só até o terreno.
– Também não tenho tutu. Vamos tirar isso fora. E o jogo de cozinha?
– Nada feito. Tô duro mesmo.
E foram desfazendo os negócios, até chegar novamente no cordão de sapatos.