ATENÇÃO: SEREIAS EXISTEM!
À sereia de paetê vermelho
Ultimamente eu me divirto só observando...o “modus operandis” da dita “Humanidade” e digo que o segue é absolutamente VERÍDICO. Podem duvidar, mas que é...é!
Nós, os humanos, somos muito humorísticos,procurem observar!
Às vezes somos a piada pronta, mas havemos de compilá-la para a posteridade!
E se tem um lugar que me instiga os escritos com muito humor é o mundo que me permite o observatório das enganações, aquelas que focam e vivem das ilusões da vaidade humana, a exemplo, os corredores das lojas de grifes...e por aqui, principalmente os da moda internacional.
Então, conto que esse meu texto nasceu no exato momento em que eu, distraidamente, andava por um corredor dum shopping de São Paulo na mera intenção de procurar uma cafeteria que gosto, apenas isso. Café bom sumiu da praça...temos que procurá-lo com lupas.
Eu comemoro minha sorte porque ainda consigo pagar por um bom café (produto da terra que não deveria ser ilusão com preço de grife!), o que, aos olhos de muitos, é um privilégio inadmissível!
Mas, como estamos numa época em que as pessoas sumiram dos centros comerciais de modo assustador, mesmo dos mais populares, o que dizer dos pontuais corredores do luxo internacional, em meio àquela tranquilidade e com bastante acurácia visual, ali pude perceber que algo não batia pelas vitrines...nem os produtos, nem os preços, muito menos os produtos agregados ao seu preço, principalmente nesses nossos tempos de dinheiro curto.
E ali não havia uma grife internacional esquecida de desfilar aos olhos desprecavidos dos pobres mortais. Coisa de impressionar...
Concordo plenamente com alguns dos bons gostos ali expostos: relógios maravilhosos, diamantes com lapidações exuberantes, esmeraldas que pesam mais que eu, brincos que esgarçariam minhas orelhas pelo já desgaste do meu colágeno, lenços de seda confeccionados em estamparias exclusivas, perfumes estonteantes, sapatos, bolsas de nobre pelica da pecuária de primeiro mundo, enfim...belas peças do sonho de consumo dos que necessitam ser grifes das grifes...principalmente daqueles poucos daqui que gastam muito “por ali” o dinheiro levado de algum povo.
Diante daquelas vitrines, achei até perdoáveis certos descaminhos anunciados ao mundo...os femininos, ao menos.
E, de repente, frente a tanta moda digamos, "esdrúxula" à plebe, eu bati o olho arregalado naquele vestido que dá o título à minha crônica.
Conto apenas para os meus leitores o que me passou pelo pensamento: “mas quem usaria uma peça dessas, meu Deus, de tão mal gosto e a esse preço?”.
Claro, senti que eu não teria o direito e nem o “ know how”, digamos, de questionar o “bom gosto estiloso” duma grife italiana que pedia “trinta e quatro mil reais e alguns centavos” por um vestidinho que seria algo “pret a porter” de magazine, não fossem os paetês vermelhos exuberantes...algo estranho demais , talvez mais compatível com uma chique apoteose da Sapucaí.
E ainda ousei a pensar, mas só comigo: “ não tenho esse direito, afinal, quem sou eu nesse alvo da moda?- apenas ninguém!- mas esse modelito,caramba, eu não o usaria nem me pagando bem para tal!”.
Mas também minha opinião, ali, seria totalmente dispensável...quem estaria interessado?
E o mais incrível: parei para observar bem de perto os paetês e percebi que algumas linhas que os cosiam estavam frouxas,as lantejoulas desgrenhadas, de modo a parecer que estavam despregados do bordado, de fato, um aspecto desarranjado que chamava a atenção pelo todo. Um todo feio...a meu ver, o de olhos empobrecidos de glamour da moda artística.
E eu, com a minha compulsão doentia de tudo no lugar certo, logo me incomodei com aquela bagunça vermelha toda brilhante.
Claro, como eram muitos paetês soltos e entortados, desconfiei que talvez houvesse alguma “informação” a mais, como costumam definir os grandes estilistas, e obviamente não seria eu a pessoa exata para entender uma informação, assim, tão complexa, tão personalizada e tão glamourosa...
Bingo!
Não me contive e entrei na loja para perguntar sobre o fato e conto que fui educadamente muito bem recepcionada por uma jovem vendedora.
“ Pois não, madame, no que posso ajudá-la, qual peça lhe interessou?”-me perguntou a funcionária, toda animada para vender.
Engoli seco com aquele “madame”, senti vontade de rir, me contive, pedi a Deus paciência, proteção, educação e confessei ali meu “desagrado” nada estiloso...já me desculpando por tal.
Então, assim me coloquei:
“Olá, boa tarde, não, é que... eu só queria entender o recado estilístico daquelas lantejoulas soltas , as do vestido vermelho da vitrine...você me desculpe, é que não entendo nada da arte da alta costura e achei a peça super estranha...confesso”.
A explicação:
“ah, imagine, claro, estamos aqui para informar às pessoas de bom gosto sobre nossa marca multinacional, vamos tirá-lo da vitrine porque é peça única, exclusiva, assim lhe explico melhor, sim, esse vestido maravilhoso foi desenhado pelo estilista italiano tal, que já fez vários desfiles pela comunidade européia, e que na sua concepção artística, do sentimento mais profundo do ego feminino, quis nos passar na textura do tecido a sensação tátil das escamas duma sereia... sempre às mãos mais sensíveis de quem o tocasse...” .
Senti que arregalei mais meus olhos... àquele canto...o da sereia...
“ e perceba, toque-as no seu desarranjo, sinta!- essas lantejoulas retorcidas e soltas...são exatamente as escamas duma sereia em movimento sutil...assim que a senhora o vestir, bem como quem o tocar, logo entenderão nossa concepção de moda...de trabalhar o prazer tátil com estilo personalíssimo...”.
Não tive como fazer uma selfie do meu susto...para aqui lhes ilustrar o efeito daquela surrealidade da moda de sereia.
E digo-lhes mais: naquela hora, o efeito da venda seria reverso: desisti de ser sereia...para todo o sempre!
Com ou sem toque, com ou sem grife, com ou sem canto, com ou sem paetês!
Bem, já escrevi demais sobre sereias ...
Termino com a seguinte informação da atual moda da vida:
“ATENÇÃO, SEREIAS EXISTEM!”
E não afundam apenas os barcos dos pescadores encantados, não!
Mesmo com cantos bem duvidosos podem seduzir e afundar inclusive os bolsos das “gentes de grife”. Mas o bolso...nunca é o delas.