Energia, eu quero uma para viver!
A cada vez que recebo o boleto da Companhia de Luz, percebo que estou fazendo algo errado. Como fazer para economizar mais energia em uma lar de 4 pessoas, sendo duas adolescentes? Já clamei por banhos mais curtos e menos horas na Tv. O computador hoje é quase 24 horas. Quando não sou eu a usá-lo, são elas, em um disciplinado revezamento familiar.
Podemos comprar outro micro, mas sei que a conta irá disparar. Não penso nem em instalar ar-condicionado, meu orçamento vai acabar virando luz e irradiando-se pelo espaço sideral, deixando um buraco negro na minha conta bancária.
No entanto, a preocupação por economizar energia não é apenas do moderno homo-sapiens, que agora grudou em poltronas com rodinhas e irá acabar achatando a ponta dos dedos de tanto apertar o teclado ou o controle remoto. O mundo converteu-se em telas e botões. A evolução não pára e alguma coisa em nosso DNA irá modificar-se, como resposta aos nossos hábitos atuais.
Nossa própria evolução, segundo os cientistas, ocorreu como uma tendência nata para economizarmos energia corporal. Aprendemos a andar em duas patas como uma forma de poupar calorias – é o que os cientistas andam dizendo.
Às vezes fico a pensar: não estariam os cientistas apenas divulgando essas notícias para aparecer na imprensa? Como a justificar os elevados orçamentos de pesquisa e garantir os seus empregos? Creio que não. Ciência é coisa séria.
Vejo agora uma foto de um chimpanzé andando em uma esteira, conectado a alguns fios. O preço da evolução nos tirou das árvores (segundo os cientistas) e nos jogou em salas fechadas, respirando um ar viciado, andando as mulheres em desafio à gravidade na ponta de elevados saltos, e os homens estrangulados por gravatas.
O homem do futuro terá o pescoço fino e andará na ponta dos pés, como seriemas. Se chegamos até aqui, tornando-nos bípedes, simplesmente para gastar menos calorias, devemos reconhecer e tentar aplicar em nossa vida moderna a sábia lição da natureza.
Preciso desligar o computador e passar a escrever na velha máquina, ou usar o nanquim, mas apavoro em saber que não terei mais uma correção ortográfica direta, que terei que acumular toneladas de papéis em prateleiras que, com a minha organização, tornarão impossível localizar qualquer texto. Além disso, com a minha caligrafia, mal consigo identificar o que acabei de escrever, além do nanquim fazer uma sujeira incrível.
Procurarei outras formas de economizar energia. Escreverei no escuro e tomarei banhos frios. Os obstáculos são a minha vista ficando cansada com o correr da idade e minha pouca disposição a banhos frios. Não sei no que a evolução nos transformará, mas eu espero, para o bem de minha atividade literária, que os cientistas descubram logo uma fonte inesgotável, limpa e barata de energia, ou teremos, em breve, que desligar a vida moderna da tomada...